Os risos morreram no mesmo instante e os empregados enrubesceram até a raiz dos cabelos, como se estivessem sendo acusados de haver estripado o melhor touro reprodutor.
— Estamos preparando o jantar — Dulce respondeu muito calma, sem qualquer traço de apreensão. — Estou mostrando a Pedro como fazer uma torta recheada de carne picadinha e frutas secas.
Pascual deixou escapar um murmúrio de assombro.
— Entendo. — Uckerman caminhou até a mesa. O aroma vindo da tigela, de picadinho, frutas e temperos, certamente tinha um cheiro delicioso. — Alfonso deveria ter me dito que você possui essa qualidade também.
— Não creio que ele saiba.
— Você acha que pode terminar sozinho, Pedro? — Embora nada deixasse transparecer, Christopher esforçava-se para manter a voz desprovida de emoção. — Preciso conversar com minha esposa e com meu administrador.
— Creio que posso dar conta do resto sozinho, meu lorde. Tem apenas a massa da torta para finalizar, não é, minha lady? — Pedro indagou, respeitoso.
— Sim, e vamos torcer para que ela cresça da maneira adequada.
Por algum motivo, a resposta de Dulce fez com que o cozinheiro, suas ajudantes e o garoto encarregado dos espetos caíssem de novo na risada. Entretanto essa reação de nada serviu para melhorar o humor de Christopher, que seguiu para o salão acompanhado de Dulce e Pascual.
No momento em que alcançou a plataforma onde ficava a mesa principal, ele atirou-se sobre a cadeira e fitou a esposa.
— O que você andou fazendo?
— Estive ajudando o cozinheiro e ensinando-lhe uma nova receita. — O tom frio e distante foi acompanhado de um olhar firme.
Nunca, até então, Christopher havia reparado como as sobrancelhas da esposa eram bonitas... Só não devia estar pensando nisso agora.
— Pascual me contou que você pretende usurpar-lhe a posição. Não permitirei que isso aconteça. Meu administrador é ele.
— É assim que você está se sentindo? — Dulce indagou, fitando Pascual cheia de remorso. — Eu não tinha intenção de preocupá-lo. Pensei que estava cumprindo um dever, como a esposa de meu lorde. Certamente não queria ofendê-lo, ou a ninguém mais. Talvez, na minha ânsia de agradar meu marido, tenha me excedido. Por favor, aceite minhas desculpas.
Estaria ela sendo sincera ou tudo não passava de uma encenação? Sem saber o que pensar, Christopher tinha apenas uma única certeza: casara-se com a mulher mais imprevisível do mundo.
Dulce sorriu para o empregado. Um sorriso caloroso, amigável, capaz de iluminar seu rosto inteiro. Jamais ela parecera tão bela aos olhos do marido. Pena que o sorriso não fora dirigido a ele.
Pascual corou e retorceu as mãos como um rapaz diante de uma moça bonita.
— Para dizer a verdade, minha lady, eu me senti afrontado. Tenho sido o administrador deste castelo há anos e pensei...
Tomando as mãos do velhote entre as suas, ela obrigou-o a fitá-la.
— Por favor, aceite minhas humildes desculpas. Estou contando com você para me ajudar aqui. Como já disse, eu queria apenas agradar ao meu marido. — Dulce lançou um olhar na direção de Christopher, que permaneceu imóvel. — E talvez, na minha ansiedade, tenha me precipitado. Peço-lhe perdão.
— Oh, minha lady, por favor! — Pascual exclamou emocionado. — Eu também falei sem pensar. Pode me pedir qualquer coisa, qualquer coisa. Estarei sempre pronto para ajudá-la.
Pelas chagas de Cristo, será que todo mundo ali dentro estava ficando louco? Ou essa ruiva altiva e indomável os estava enfeitiçando? Uckerman procurava se convencer de que não valia a pena tentar entender.
— Uma vez que esse pequeno desentendimento parece superado e esquecido e já que vocês dois se mostram tão bons amigos, vou até a sala de armas.
Ele saiu do salão convencido de que uma boa hora de exercícios com a espada o faria sentir-se melhor.
A dúvida de Christopher quanto à sinceridade do pedido de desculpas de Dulce não tinha qualquer fundamento.
De fato, ela falara de coração aberto e a ideia de que pudesse ter magoado o administrador a afligia. Ela sabia que iria precisar da cooperação de Pascual para cuidar do castelo e também acreditava que sua ansiedade e o excesso de zelo poderiam ter sido interpretados como aparente grosseria.
Havia um outro motivo pelo qual preferia não se indispor com o administrador. Além de sir Tomáz, o velhote era o único que conhecia Christopher de verdade, pois estava a serviço da família há anos. Era imprescindível que aprendesse a agradar o marido ou, no mínimo, que conseguisse mantê-lo de bom humor para o bem de todos. Pascual era a pessoa perfeita para ensiná-la a decifrar os humores de Christopher.
— Espero não tê-lo desagradado muito — ela comentou, observando o marido afastar-se.
Pascual sorriu e deu-lhe um tapinha encorajador nas costas.
— Não fique assim tão preocupada, minha lady. Meu lorde pode ser impaciente e rude quando está muito cansado. Anos atrás, aprendi a não dar muita importância a esses rompantes, embora nunca tenha deixado de cumprir uma ordem, ou de atender um pedido. As reclamações de meu lorde tampouco devem ser vistas como tolices, pois, em geral, têm fundamento.
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Esposa Rebelde - Vondy
RomanceA paixão incendiou aquele casamento de conveniência! Inglaterra Idade Média Arrogante o orgulhoso, sir Christopher de Uckerman exigia de sua esposa obediência absoluta. Mas a rebelde lady Dulce Sanviñon desafiou a autoridade de Christopher desde a...