capítulo 17

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Ele gostava dela. Admirava o equilíbrio interior e a autoconfiança. E, o mais importante, sabia que podia respeitá-la.

De repente uma outra certeza lhe ocorreu. Ele desejava. A percepção desse desejo era tão chocante quanto a sua intensidade.

Entretanto não havia como negar os sentimentos que o abalavam, ou o que sentira quando moldara o corpo esguio sobre o seu. No meio das árvores, exalando perfume das flores, os cabelos soltos, o rosto enrubescido, Dulce nunca lhe parecera tão selvagem e indomável. Livre. Apaixonadamente livre. Pelos céus, se fosse capaz de atrair um pouco daquela paixão...

— Devo me desculpar outra vez pelo comportamento ultrajante de minha irmã — Alfonso falou, trazendo-o volta à realidade. — Ela é uma criatura independente, apesar dos esforços de meu pai para subjugá-la.

— Como ele tentava dobrá-la? — Christopher indagou, enquanto mantinham os cavalos a passo. — Por acaso a espancava?

— Claro. — Parecia natural a Alfonso que Uckerman fosse experimentar os mesmos métodos de correção. — Mas temo que as surras tenham surtido pouco efeito.

— Suponho que seu pai a tenha feito passar fome também.

— Ele acreditava que o jejum faz bem ao espírito. Todos tinham que jejuar. Felizmente meu tio me levou para a França e consegui escapar às excentricidades daquele avaro.

 

Dulce, porém, não escapara às excentricidades do pai. As surras explicariam as cicatrizes nas costas. Que tipo de homem espancaria a própria filha de uma maneira tão violenta?
— Você... você não está planejando anular o casamento está? — Alfonso indagou ao se aproximarem do castelo.
— Não. — Ainda bem que Fernando Saviñon já estava morto ou se sentiria tentado a dar-lhe uma boa lição sobre dor.

Naquela noite, Dulce sentou-se no lugar de honra, à direita de sir Christopher. Embora se esforçasse para se concentrar na comida, o homem ao seu lado perturbava-a tremendamente e tudo em que conseguia pensar era na cena ocorrida no bosque.
Depois do acontecido, esperara que Alfonso viesse dizer-lhe que Uckerman mudara de idéia e rompera o compromisso. Entretanto seu noivo comportava-se como se nada houvesse acontecido, e Pascual já iniciar os preparativos para a festa de casamento, no dia seguinte. A cerimônia seria celebrada do lado de fora da capela e oficiada por padre Reverte.
Tampouco ela era a única pessoa a sentir-se desconfortável no salão. Todos os presentes pareciam seguir o exemplo de sir Christopher e permaneciam num silêncio quase absoluto. Precisava ter sempre em mente que suas atitudes eram capazes de influenciar o humor de seu futuro marido e, por extensão, o salão inteiro, Não se tratava de uma responsabilidade a ser levada com leviandade. Contudo, pelo menos naquele instante, não conseguia dizer nada, principalmente porque não parava de olhar para as mãos de sir Christopher e lembrar-se de como ele a tinha segurado. Amanhã à noite aqueles dedos voltariam a tocá-la e talvez acariciá-la..

Esposa Rebelde - VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora