Réquiem

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Teu funeral estava inquieto
Funesto, nefasto e inquieto

O sol fechou-se sem te ver
Os botões de rosa morreram

Os corvos caíram do céu
Lírios negros desabrocharam

Em algum concerto na Alemanha,
Um pianista errou alguma nota

Em algum hospital de Varsóvia,
Outra dama deu seu último suspiro

O céu vespertino estava tão cinza
Sua palidez assombrava-me

Sombras pairavam sobre teu caixão
E o vento do orvalho as molhava

A própria existência ajoelhou-se
E tudo deixou de existir

À passagem do tempo, tudo isolou-se
Tudo se petrificou

As sirenes pararam
As crianças já não mais corriam

Os instrumentos desafinaram-se
Os aeroportos congelaram

A luz que outrora iluminou teus olhos
Agora ilumina a lanterna do coveiro

Todas as noites caíram
Os sinais agora te abraçavam

E eu, em paz e quieto
Perdido em meu próprio quarto

Levei a mão à caneta
O papel sujo sobre a escrivaninha

Eu poderia ter parado para pensar
Eu poderia ter parado para lembrar

Mas, querida, nesta noite escura,
Escrevi-te um réquiem

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