Nesta manhã, acordou-me algo estranho. Sim, devo dizer que mal devo atenção às emoções que afloram ante o frio soturno do quarto, mas a esta posso dizer que... Que esta foi especial. O orvalho da janela pintava as virtudes e os vícios da minha noite, e eu vi meu próprio reflexo. E sorria. Quem era aquele ser, que, por um momento, sorria sem pensar no preço que aquele sorriso poderia custar? Quem era ele?
Aflorava-me o peito! Nem que por um simples momento, aflorou-me aquilo de que escreviam os gregos — o objetivo último de todo homem, por mais vário que fosse. Era a eudaimonia que me aflorava. E eu sorri perante o vidro, antes fosse por um segundo somente. Mas sorri. Vi o céu tão cinza que pinta as manhãs sorrindo para os meus olhos cansados e vi uma gota de esperança subir lentamente no horizonte, ao lado daquela eterna esfera brilhante que, queiramos ou não, sempre nos encontra em todas as manhãs.
Lembro que, por um segundo, fechei os olhos e suspirei — um momento antes de virar-me e ir de encontro ao guarda-roupas para que eu me aprontasse para outro dia que estava por vir. Mas aquele foi o momento em que fechei os olhos. O momento em que fechei os olhos e me vi tão profundamente...
Foi o meu momento de eudaimonia.
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Devaneios
PoetryNão há outro nome com que eu possa chamar meus versos e prosas de maneira correta. São devaneios de uma mente calculista que pensa, e são os devaneios que alimentam a mão para a escrita - então, por que não?