Devaneios

Caça às Bruxas

Sorria ao fulgor de uma nova Idade Média! A diferença desta época às épocas trevosas que acometeram a Europa séculos atrás não é muito gritante: ainda somos queimados nas fogueiras em praça pública — os ideais são distorcidos, julgados e condenados. O poder depende de quantas posses você tem: o que em tempos de outrora eram terras, hoje são casas, carros, a roupa que se veste, o lugar onde se transita, tecnologia. E, numa sociedade assim, quem são as bruxas? Quem são aquelas pessoas que são arduamente caçadas para que no fogo queimem impiedosamente? São os esperançosos. São aqueles que veem o que se passa e creem: “Está ruim hoje, mas amanhã melhorará; mudará, se reformará.” Mas, sim, a questão que os acomete é: “Será que realmente se pode ter esperança numa época em que a esperança é vendida a quilograma, ensacada e enviada a instituições humanitárias na África? Será que realmente nos vale esperar por uma sociedade melhor quando não olhamos para nós mesmos?”

Sim, a partir disso pode-se inferir que, muitas vezes, as fogueiras nos queimam sem que saibamos. Analogamente à Idade das Trevas, também, é possível pôr em pauta as relações comerciais: Antes, se não quitássemos nossas dívidas, quer éramos assassinados, quer perdíamos três dedos, a mão, o braço — mas e hoje? Se não quitamos nossas dívidas, perdemos nosso carro, nossa casa, nossas economias. É a virtualização da usura e a apropriação de uma virtude renegada.

Ademais, aproveite as graças de seu presidente, viu? Porque o presidente, de algum modo, ele é o rei dos tempos de outrora — e a espada deste é a caneta daquele, que muito bem pode decapitar-nos sem que mesmo o saibamos.

Agora, chega de enrolação! Parai de ler, homens e mulheres contemporâneos, pegai vossas tochas e forcados e ide caçar as bruxas esperançosas — já que é isso que fazeis de melhor...

O Copo

O copo não está meio cheio
O copo não está meio vazio
O copo está cortado no meio
E cada metade é um rio