Capítulo Quatro.

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Tiro a aliança dourada que está em meu dedo e a arremesso longe de mim. Estou encolhida no canto da sala sentindo a gélida parede contra minhas costas, enquanto as lágrimas escorrem sem cessar.

Perdi a conta de quantas vezes Erick disse que não se importava com o fato de eu ser estéril, e que eu também não deveria me importar...mas ao ouvir exatamente o contrário dele, fez com que eu entendesse o porquê de todos, até sua própria irmã, serem contra este casamento, e devia admitir estava começando a ser também.

Meu sonho sempre foi ter um filho, ouvir os batimentos cardíacos, sentir os chutes, as contrações e por último segurar sua mãozinha tão delicada, alguns segundos após o parto.
 Como desejo isto a vida inteira, até os meus dezenove anos quando fui a uma consulta para fins de regular meu ciclo menstrual e acabei descobrindo que eu nunca teria este problema de atraso de menstruação, por mais que não devesse me preocupar.

Aquilo doeu. Isso ainda dói. E pela primeira vez, desde que aceitei namorar com Erick eu o odiei, ao ponto de quebrar um dos meus vasos favoritos, apenas queria que aquela raiva se esvaísse de mim. Ah como desejava aquilo. Na verdade, o que eu realmente desejava era o colo de minha mãe e apenas chorar ali por minhas escolhas mal feitas.

Me arrependi de tê-lo conhecido, mas ainda mais me arrependi de ter aceitado me casar com ele. Por que não enxerguei o crápula que ele é? Por que estava tão cega ao ponto de não ver algo que estava literalmente bem abaixo de meus olhos? 
Tão nítido porém, tão cegamente levei este relacionamento durante quatro anos. QUATRO ANOS inteiros, o que perdi, e abneguei para estar com ele, e em troca do quê? Disso? De um fim de noite como esta? Encolhida no canto da sala chorando e se arrependendo amargamente por esta escolha errada...e esse foi o primeiro momento que realmente me arrependi de ter deixado Santa Catarina. Provavelmente estaria mais feliz lá. Provavelmente, não teria conhecido Erick lá.

Mesmo que meus músculos gritassem o contrário, eu levantei. Dirijo-me até o banheiro e tomo uma rápida ducha.

Não checo meu celular, na verdade não me importava que horas eram, apenas queria que aquele sentimento passasse.

Visto um moletom qualquer e me jogo contra o colchão sentindo meu estômago embrulhado. Neste momento me arrependi de ter almoço, ou comido algo no dia de hoje.

Rolo na cama esperando que este mal estar vá embora e leve junto meu mal emocional... Neste caos que me encontrava dentro de mim mesma, adormeci.

Acordei em um sobressalto, seis horas, estava mais do que atrasada. Acho que nunca me troquei tão rápido na vida, ao menos me lembrei de pegar alguma fruta para comer, estava atrasada demais. Por mais que tenha tentado as vias mais rápidas até o trabalho acabei chegando atrasada.

Assim que sentei em minha mesa, pude notar um Davi alheio ao meu lado, ele ao menos notou minha presença.

-Ei, tudo bem? –Pergunto, chamado sua atenção.

-Oh, sim Clara, e você? – Ele me olha de rabo de olho.

-É estamos aí.-Respondo fazendo-o rir.

-Vou interpretar isso como um "estou tentando".

-Pode ser. – Dou um leve aceno com a cabeça.

Concentrei tudo o que tinha em escrever a matéria sobre o Sanches, sei que as chances de publica-las são mínimas, porém nada me impede de escrevê-las... Além de que por menores que sejam, ainda existe a possibilidade.

No fim do expediente, estava satisfeita com a matéria que nunca conseguiria publicar... Cada um tem suas limitações, esta é a minha, publicar apenas o que o editor chefe permite e por mais que ele seja o mais audacioso de todos, ainda assim ele responde ordens de um outro editor retornando assim num ciclo vicioso.

Sob Um Novo OlharOnde histórias criam vida. Descubra agora