Capítulo VIII -

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Despertar. Naquela manhã, até um ato simples como esse me desprendeu mais esforço. Não fazia ideia de quem havia me transferido de um lugar para o outro, mas sei que simplesmente acordei em minha cama quente e confortável. Moggie estava sentada em uma cadeira ao lado, dormindo. Virei um pouco a cabeça e vi uma leve brisa balançar as cortinas da janela, sentei na beirada da cama deixando o calor e a luz que entravam atingirem minha pele. Sentia que meu corpo se encontrava estranhamente fraco e lembrei da queda do dia anterior.

— Posso saber onde pensa que vai, mocinha?

Não havia reparado a presença de tio James ali – talvez houvesse acabado de chegar. Ele estava encostado no batente da porta do meu quarto, com uma expressão leve.

— O que aconteceu?

— Você esteve andando pela casa.  – Ele escolheu bem as palavras. — Parecia confusa quando lhe encontrei, disse que havia alguém chamando por você. Me deixou preocupado.

— Sério? Eu nem sabia que era sonâmbula.

Seu rosto se iluminou com um sorriso sincero. Não estava acostumada a vê-lo assim, sendo tão cuidadoso e com o semblante mais leve.

— Agora está se sentindo melhor?

— Bom, acho que sim. – Me apoiei na mesa de cabeceira e levantei testando se conseguia andar por mim mesma.

— Fico feliz. Gostaria de tomar o seu café agora? Eu mando trazerem para você aqui, se preferir. – Ele sugeriu.

— Pode deixar que eu vou lá embaixo. Não quero dar esse trabalho aos empregados. E por falar disso, fiquei pensando, como uma propriedade tão grande pode ter tão poucos funcionários?

— Ah! – Ele respirou e pareceu pensar em uma resposta. — Haviam mais empregados. Mas, se lembra quando disse que alguns pacientes haviam falecido naquele dia na vila? – Eu fiz que sim e ele prosseguiu. — Bom, dois deles eram funcionários aqui e outros pediram dispensa por precisarem cuidar de familiares que estão correndo o mesmo risco de vida.

— Eu compreendo. É alguma doença contagiosa? — Questionei.

— Bem, de certa forma. – Ele desviou o olhar por um instante. — Enfim, aceita uma ajuda para descer?

Mais que depressa, ele se ofereceu. Essa nova versão do tio James estava me surpreendendo. Mesmo assim, aquela resposta havia me deixado com uma ponta de dúvida.

— Aceito.

Me debrucei em seu ombro e chamei minha tutora – como ela parecia exausta, a deixei descansando. Ele me conduziu, vagarosa e pacientemente, até o local de nossas refeições. Maya e Peter devem ter sido informados dos últimos acontecimentos, pois prepararam os mais variados bolinhos, biscoitinhos e pães de que eu mais gostei do dia em que os encontrei na cozinha. Depois do café, fui até lá procurar meus amigos cozinheiros e agradecer pelo carinho. Peter estava radiante quando eu cheguei na cozinha, seu sorriso transbordava felicidade enquanto cantarolava.

— Bom dia, pequena flor de liz.

Acenei com a cabeça, retribuindo com um sorriso.

— Eu vim agradecer pelas delícias que me enviaram. – Ergui o pratinho com alguns biscoitinhos que ainda comia.

— Fico contente que tenha gostado. Soubemos que se acidentou ontem e pensamos que um bom café da manhã lhe faria bem.

— Sim, foi um acidente um pouco estranho.

Mestre Pi percebeu minha preocupação através da voz. Neste instante, Maya surgiu pela abertura que dava para um jardim, pomar ou horta. Ela também estava alegre e sorridente.

Legado e AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora