Capítulo XXII -

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— Então, como era a sua vida antes?

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— Então, como era a sua vida antes?

Eu não esperava que ele já iniciasse com uma pergunta tão ampla e que, dependendo das palavras escolhidas, poderiam revelar mais do que o pretendido. Mesmo que esse houvesse sido o nosso trato.

— Nossa, você vai direto ao ponto.

— Você quem disse que a franqueza nos ajudaria a conhecer melhor um ao outro.

— Sim, mas eu esperava que você perguntasse algo como "qual é a sua cor preferida?" e não isso.

— Tudo bem. Então, qual é a sua cor preferida?

Devolvi uma risada sincera como resposta e ele sorriu. Depois de arrancar-me lágrimas, o mesmo garoto conseguia tirar-me risos. E não havia se passado tanto tempo assim entre uma coisa e outra. Quando me dei conta disso e calmamente me preparava para responder sua pergunta, ignorando a segunda, notei seu olhar demorado e concentrado em mim.

— Você quer saber de antes de eu chegar em Una Royal.

— Sim. Deu para perceber que você não sabia muito sobre a nossa realidade quando chegou aqui.

Entrelacei as mãos uma na outra e rangi um pouco os dentes, um sinal de que estava nervosa mas buscava não demonstrar muito externamente.

— Eu realmente não sabia. Eu não tinha conhecimento dos meus poderes antes de chegar aqui. Além disso, de onde eu venho as pessoas não tem poderes. E só agora eu sei o motivo de não existirem registros sobre os Guers na história do Grande Lizma, o Limite de Una os escondeu do resto do mundo.

— Suponho que as suas autoridades governamentais retinham todo o tipo de informação referente a nós e eram portanto também as únicas com liberdade de falar algo a respeito, possuindo assim o poder de controlar a narrativa e nos apagar da história.

Balancei a cabeça afirmativamente. Era exatamente o que eu pensava a respeito mas não podia expressar em Leeland – principalmente publicamente. Quantas vezes Moggie havia me alertado a respeito das minhas opiniões em relação à Cúpula dos Líderes e seu governo?

— Não acho que aqui seja muito diferente, Eirie. Você sabe do que estou falando.

— Eu sei o que nossa visão política parece representar para você. Eu também não gostaria de estar em uma guerra, mas nem sempre se pode conseguir a paz por meios pacíficos. Nós já tentamos isso entrando em acordo e agora esse acordo foi quebrado.

— Mas você sabe quem mais vai sofrer com esse conflito e não são os governantes ou a elite.

— Certo, eu não vou discutir com você. Já entendi que o governo na Lizleelândia era ditatorial.

Ele gesticulou como quem pedia para dar continuidade. Eu ia reclamar mas vi um pouco de maturidade na atitude dele. Ainda bem, pois eu o venceria na argumentação de qualquer forma.

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