— O que fazem aqui embaixo? Não deveria estar na inspeção, Zorr?
Célia colocou as mãos na cintura expressivamente dando um sermão ao menino. Respirei aliviada por ver que era apenas ela e não seu marido, mesmo que ainda não tivesse certeza do que esperar.
- Tive uma crise de ansiedade e a bondosa Lizlee me trouxe para tomar um ar.
O garoto mentiu para nos livrar dela, ao que eu confirmei com um aceno de cabeça esperando que alcançássemos êxito nisto.
- Tudo bem - a mulher retrucou com certa desconfiança. - Então voltem logo, aqui não há nada para verem.
Dei meia-volta com a cadeira de rodas e acenei novamente, assentindo. Porém, senti que ela escondia algo.
- Esperem! - Parei instantaneamente. - Isto é para o seu irmão - Célia entregou em minhas mãos uma bombinha e uma caixa com um medicamento. - Deveria ter nos dito que Otávio tem asma.
- Ah, obrigada.
Agradeci depois de um tempo sem saber bem o que dizer, pois eu realmente não fazia ideia.
- E da próxima vez você pode não ter tanta sorte quando estiver bisbilhotando - ela disse enquanto prendia meu pulso com firmeza.
- Guers não são bem vistos aqui.- Espero que isso mude, já que a sua filha agora também é uma.
Respondi, puxando meu braço com força para perto do meu corpo. Coloquei as coisas no bolso e tomei o controle da cadeira de rodas outra vez, dando-lhe as costas.
- Eu fui a primeira a pedir que aceitassem você e seus irmãos que também são guers, então não ultrapasse os limites.
Não me dei ao trabalho de responder e nem de virar para olhá-la, apenas empurrei Zorr de volta pelos corredores até o refeitório onde paramos para tomar café.
Foi quando Kell apareceu bem preocupado e me olhou de longe com uma cara feia que eu não soube decodificar o que significaria.
- Zorr, onde você estava? Todos estavam te procurando.
- Bom dia pra você também, Kell.
Estendi a ele uma mão oferecendo o copo com a bebida, enquanto pegava um outro para mim.
- Olá, Lize. - Franzi o cenho e ele se virou dirigindo a palavra ao menino, ignorando a mim. - Mas então, vamos?
- Ele vai ficar aqui.
Cruzei os braços e ergui a cabeça, respondendo antes que Zorr tivesse tempo de fazê-lo. Kell se voltou de frente para mim, chegando tão perto que deu para sentir quando ele bufou de insatisfação.
- O que você disse?
- Não vê que o garoto se sente sufocado com o quanto vocês ficam superprotegendo ou inibindo as vontades dele?
Retruquei sem me deixar intimidar com o olhar de raiva dele. Parecia que tinha acabado de cutucar uma fera.
- Você é quem não vê. Ele está cheio de limitações.
- Eu consigo enxergar bem mais limitações em você.
Dei mais um passo e fiquei o encarando como se o convidasse a dar o outro. Ao contrário do que imaginei, ele recuou.
- Você está certa - Kell ergueu as mãos se redendo. - Tudo bem, vai lá e encha-o de esperanças com seu discurso de que ele pode fazer coisas incríveis como qualquer outra pessoa.
Pisquei algumas vezes sem entender. Tentei dizer algo, mas estava incrédula demais para isso.
- Faça-o acreditar. Faça-o querer o mundo e depois tire isso dele. Eu sei que você vai conseguir deitar sua bela cabecinha rica e mimada num travesseiro à noite, sem se importar em ter magoado esse garoto, mas eu... por Deus, eu não conseguiria.
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Legado e Ascensão
FantasyLizlee Deskran é uma garota que nasceu e viveu em Leeland - a capital do novo mundo, conhecido como Lizma - até o ano 6240 (4.180 anos após um fenômeno global, desencadeado por uma sucessão de cataclismos, resultado de armas biológicas e nucleares q...