Capítulo VII -

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Quando enfim abri os olhos, minha cabeça latejava de dor. Levei a mão ao local e senti sob os dedos o sangue que havia escorrido da ferida já um pouco seco. Me apoiei na cama para ficar de pé. Com algum esforço, andei até a porta – que estava trancada – mexi na maçaneta e bati na porta. Ninguém ouviu. Desisti de tentar sair, aquele esforço estava me cansando mais rápido. Fui até a penteadeira e, olhando o meu reflexo no espelho, notei que estava um pouco pálida e em seguida pude perceber que havia alguma coisa na cadeira. Me levantei, ainda cambaleante, e segui até o objeto de minha curiosidade. Antes de alcançar o que quer que aquilo fosse, escutei o barulho da maçaneta acompanhando a voz de minha tutora e virando rápido demais, senti uma pontada de dor na nuca que me fez levar a mão ao corte  fazendo careta em seguida.

— Bom dia, senhori... – Ela notou o meu desconforto e correu até mim. — O que aconteceu?

— Eu bati com a cabeça. Acho que preciso de um remédio, me sinto um pouco tonta. 

— Deixe-me ver isso.

Ela me pegou pela mão, como se eu fosse uma criancinha e me fez sentar na cadeira em frente a penteadeira. Depois de examinar bem o corte, como se fosse uma especialista, por fim chegou à uma conclusão.

— Não é um corte muito profundo. Venha comigo até lá embaixo procurar algo para limpar e fazer um curativo.

Chegando lá, tio James que ocupava a cabeceira da mesa, me encarou.

— O que aconteceu com suas roupas, senhorita?

Olhei para baixo e só então percebi que ainda vestia pijama e andava de pantufas. Moggie foi quem respondeu por mim.

— Estamos procurando algo para fazer um curativo.

— O que aconteceu? – A expressão dele mudou de sarcástica para interrogativa.

— Bati com a cabeça. – Minha tutora me virou para ele e mostrou o corte em minha nuca em meio ao meu cabelo.

— Venham comigo. Vou te examinar melhor e providenciar tudo o que precisar.

Não esperava que ele fosse cumprir isso mas, para minha surpresa, ele o fez. Chamou Cavanaugh que apareceu logo após chegarmos até seu escritório com uma maleta de primeiros socorros e uma jarra de água.

— Sente alguma dor nessa região?

Tio James perguntou, enquanto colocava luvas de um material branco leitoso e em seguida apalpava o local da pequena lesão. Fiz careta brevemente ainda ouvindo seus comandos de fazer movimentos com a cabeça e tentando obedecer.

— Está perguntando porque realmente se importa ou porque tem medo de que aconteça algo pior comigo e se torne o principal suspeito?

Ele continuou fazendo seu trabalho e sinalizou, com um estalo dos dedos pedindo ao mordomo um objeto no formato de uma caneta que depois se revelou mais com a função de uma lanterna. Clicou em algum lugar e lançou aquele feixe de luz em cada um dos meus olhos, solicitando que os mantivesse bem abertos. Outros testes foram feitos e também perguntas sobre de que altura caí, o local contra o qual minha cabeça se impactou, se cheguei a desmaiar, se vomitei, se convulsionei ou se me sentia confusa. Felizmente ele não perguntou o que havia acontecido antes da queda.

— Mas, senhor Deskran, ela se machucou gravemente?

— Ela só teve uma concussão, aparentemente, nada muito grave. Necessita fazer repouso e evitar atividades estressantes por enquanto. Vamos continuar observando a sua evolução e se não irão aparecer novos sintomas nas próximas horas ou dias.

Depois, erguendo uma sobrancelha ele encarou o criado que entendeu o sinal pois estava mais habituado, até mesmo pela convivência com ele, e que pediu à Moggie que o acompanhasse. Em questão de segundos, eles saíram, nos deixando sozinhos na sala. Os móveis eram sérios, de uma madeira escura e forte que eu acreditava ser mogno, bem polida e com entalhes muito bonitos. A decoração era muito sóbria, nada muito extravagante, porém, chegava a ser sem vida – possivelmente, pela própria ausência de cores e de objetos que dessem teor pessoal ao lugar.

Legado e AscensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora