Capítulo X -

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— Onde estou?

  Essa foi a primeira coisa que se passou na minha mente depois de ouvir um chamado aflito que pareceu vir ecoando de dentro de um pesadelo e que se dissipou no instante em que recobrei a consciência. Automaticamente também foi a primeira pergunta que consegui formular após durante esse momento de confusão mental.

— Nas redondezas do além, esperando que os portões do Welt der Toten se abram para nós.

— O que? – Levantei um pouco a cabeça e mirei os olhos para o outro lado, me deparando com Eirie. — Se afaste de mim imediatamente!

  Empurrei meu próprio corpo um pouco para trás, dobrando as pernas e depois as envolvendo com os braços.

— Calma, eu só estava brincando. — Ele levantou as mãos e as mexeu para baixo e para cima, tentando me acalmar. O que decerto, não serviu para nada. — Não estamos no além, mas isso não significa que escapamos do inferno.

  O encarei, ainda atônita. Recuperando os sentidos e voltando a mim. As coisas que ele dizia pareciam não fazer sentido.

— É sério. Onde estou?

— Não saímos do lugar. — Olhei em volta para constatar com meus próprios olhos. Nunca acreditaria em uma só palavra que saísse da boca dele. — Não fazem nem dois minutos que você chamou por mim e então quase caiu de cara no chão.

Mirei a paisagem ao redor e fiz uma observação sobre como pareceram ter se passado horas. Enquanto isso, ele se gabava.

— Mas eu te segurei. Pode me agradecer depois, eu não ligo. 

Tentei ficar de pé, mas minhas pernas não colaboraram. Pareciam travadas, fracas. Quis forçar mas nem isso deu muito certo. Gemi e resmunguei, maldizendo o momento em que decidi sair de casa.

— Com certeza isso é resultado do que injetaram em você. Está reagindo com o seu sangue e com a substância-matriz presente nele. Você deve ficar bem mal por algum tempo, se isso for composto pelo mesmo material que o da Flecha Dourada.

— Flecha do que?

— A Flecha Dourada.  — Ao perceber que eu não estava entendendo absolutamente nada do que ele estava falando, o garoto torceu o rosto e começou a explicar. — É uma arma desenvolvida pelos Guardiões de Metal. Até onde se sabe, é a única capaz de extrair a essência de um Guer-Matriz.

— E o que acontece quando se perde essa essência?

Ele voltou a entortar o lábio contrariado por ter que explicar o que para ele parecia ser tão óbvio, mas que para mim, ainda era novidade.

— Em pequenas quantidades, o componente dessa arma é capaz de embaralhar a matriz e os sentidos... como essa sensação que deve estar sentindo agora.

— E em grande quantidade? — Indaguei, receosa da resposta, apesar de que já até imaginava o que ele ia dizer.

— Olha, do ponto de vista anatômico, a matriz é como um órgão e em nós, Guers-Matriz, substitui o coração. Em outras palavras, nós não temos um coração como os Guers comuns e os Não-Guers. São as nossas matrizes que fazem a função de liberar a substância matricial que mantém nossos corpos e nossos poderes.

Engoli em seco. Aquele era o tipo de informação que eu não esperava receber.

— No entanto, essa não é a única função dela. O sangue dos Guers comuns tem substância matricial em pequena quantidade mas o corpo deles não a produz naturalmente. A nossa matriz controla toda a substância matricial que existe, é como se todos estivessem dependendo de nós. Exceto pelo fato de que, se nós morrermos, eles apenas perdem as habilidades e voltam a ser normais. Acho que então você pode entender o que a Flecha Dourada pode fazer conosco em grande quantidade.

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