Capítulo III -

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Quando chegamos ninguém estava lá para nos receber. Já era esquisito nunca ter ouvido falar do dono dela, talvez ele não existisse e meu pai apenas tivesse alugado uma mansão para que eu morasse com a Moggie. Estava para levantar as mãos aos céus e agradecer quando escutamos vozes ecoando pelo corredor. Moggie começou a bater minhas roupas, como quem espana pó de um móvel sujo. A intenção dita, era me deixar "apresentável", mas na verdade ela estava era lamentando não ter me obrigado a tirar as calças rasgadas no joelho. Enquanto ela tagarelava sobre minha apresentação ao nosso anfitrião, eu corria os olhos pela sala ampla e arejada com um lustre de cristal enorme no teto. As escadas davam para os dois lados do andar de cima. Era uma bela casa. A chegada de dois senhores nos chamou a atenção. Um deles vinha na frente abotoando o paletó, o outro vinha atrás enchendo o primeiro de perguntas e anotando em uma caderneta.

— Eu já disse que essas coisas devem ser resolvidas com os cozinheiros.

— Sim, senhor. Mas...

— Cavanaugh, saia antes que eu perca o mínimo de paciência que me sobra.

O mordomo, ou alguma coisa do tipo, insistia na conversa.

— Só mais uma pergunta. Devo acrescentar alguma bebida ao menu?

— A garota só tem dezessete anos e eu não quero “iniciá-la” em um vício.

— Mas não é para ela.

O homem parou bem sério e encarou o mordomo. Ao ver que havia prendido a atenção dele, o empregado perguntou.

— Whisky, talvez?

Tomei parte na conversa para que eles percebessem nossa presença.

— Olá.

Os dois se viraram ao mesmo tempo nos encarando. Em seguida, ignorando nossa presença, ele retornou a falar com o empregado.

— Cavanaugh, você sabe o que eu penso sobre isso. Os vícios destroem um homem.

— Meu pai apreciava bastante.

Depois de um instante, bastante constrangedor, ele se aproximou de nós duas fixando bem o olhar em mim.

— Isso é porque o seu pai era um alcoólatra.

Não aguentei ouvir a memória dele sendo insultada e retruquei.

— Pelo menos ele era educado o bastante para receber visitas.

Ele me lançou um olhar de desprezo e estalou os dedos para o outro homem.

— Instale as senhoritas. Tenho um compromisso.

— Sim, senhor.

Em seguida, ele saiu como se não desse muita importância à nossa chegada. Observei aquilo um tanto indignada.

— Venham comigo. — Sem muita escolha, o acompanhamos pelas escadas apenas com as malas de mão.

— É um prazer conhecê-las. Sou Cavanaugh, o mordomo.

— Eu sou...

Ele me interrompeu e estendeu a mão para pegar nossas malas.

— Lizlee Deskran. E a sua tutora é Morgana Hapstall.

— Como sabe quem somos?

— Você é a sobrinha do senhor James Deskran, como eu não saberia?

O homem andava firme e parecia ser bem treinado para responder com prontidão.

— Desculpem o modo como ele as tratou na chegada.

— Ele quem deveria pedir e não o senhor. — Moggie deu um puxão em meu braço.

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