Naqueles curtos instantes, meu coração pareceu parar junto ao tempo. Uma sensação de confusão me tomou e então notei que eu estava me observando naquela cena, exatamente como ela se compunha. Era o que alguns costumavam chamar de "experiência extracorporea". Mas eu não estava morta, era outra coisa. Pisquei algumas vezes e cravei as unhas nas palmas das mãos só para ter certeza que estava de volta ao meu corpo. Não fiz mais do que um grunhindo baixinho ao constatar que havia algo de realmente diferente naquele lugar, uma energia dúbia.Ao voltar meu olhar para a figura em nossa frente e da qual esperava se revelar por baixo daquele capuz alguma criatura horrenda, desfigurada e de aparência maligna ou essas três coisas, posso respirar aliviada ao ver que era apenas uma garota. À primeira vista não consegui distinguir onde terminava seu rosto e começava seu cabelo – uma vez que ambos tinham o mesmo tom de branco perolado com ondas leves que desciam em uma bela trança cheia e bem detalhada com fios dourados deslizando entre as mechas – imitando os que desciam pela extensão de sua roupa. Sem se deter nos detalhes, qualquer um poderia dizer que seu rosto passava simplesmente pelo de uma jovem e bela moça, porém meus olhos captaram estar repleto de alguma coisa diferente e quase imperceptível que eu não soube identificar na primeira impressão. Mas os olhos dela, esses sim eram o seu grande diferencial. Pupilas, íris e até a esclerótica de seus olhos eram completamente preenchidos por uma cor que refletia a escuridão como um espelho. Negros e profundos como uma obsidiana.
Por algum motivo, a presença dela me deixava assustada e receosa. Será que ela também sentia o mesmo que eu tinha sentido quando cheguei naquele lugar?, me questionei mentalmente. Deixei-me ficar mais atrás de Philip, como se assim ele fosse se tornar um escudo protetor, no entanto, isso só pareceu servir para, ao contrário do que eu esperava, fazê-la me notar e me encarar por um breve momento sem transparecer nenhuma expressão, depois disso dar um passo à frente abrindo o diálogo.
— Eirie. — Iniciou e estendendo a mão num gesto delicado, ao que ele respondeu segurando e se inclinando para depositar um beijo nela.
— Alexandra.
Depois, com nada mais do que um aceno de cabeça para o garoto que se encontrava mais distante, ela cumprimentou meu "protetor".
— Irrégio.
— Lady Gregor.
Ele respondeu com uma reverência comedida e distante, mas notei sua ligeira inquietação. Estava intrigada com tanta formalidade. Quem seria esta garota? Estaria na presença de uma figura realmente importante, alguém da realeza de Lanóvia? E com essas roupas?
— E quem é a garota que se esconde atrás do Irrégio?
Congelei em meu lugar mais uma vez. Phil deu espaço e me deixou às vistas dela, mas quando tentou me encorajar a andar, não consegui. Eirie fez menção de responder, porém a garota ergueu a mão direita e exclamou com seriedade.
— Estou perguntando para ela.
Embora em meu íntimo tenha adorado ver Eirie se calar diante dela, precisei de mais alguns segundos e uma respirada para ser capaz de engolir o nó que me impedia de falar e responder.
— Lizlee. Lizlee Deskran.
Minha voz saiu baixa e tímida, contrastando com a dela, que saía forte, decidida e se propagava com autoridade.
— Venha até mim!
Fiz como ela disse e fui até lá assim pude notar melhor alguns detalhes que antes não conseguia, como alguns padrões de símbolos dourados em sua vestimenta verde escura de tecido forte e aparentemente aquecedor.
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Legado e Ascensão
FantasyLizlee Deskran é uma garota que nasceu e viveu em Leeland - a capital do novo mundo, conhecido como Lizma - até o ano 6240 (4.180 anos após um fenômeno global, desencadeado por uma sucessão de cataclismos, resultado de armas biológicas e nucleares q...