Acordei sobressaltada e olhei na direção de onde vinha a luminosidade. O sol já denunciava um novo dia, ou seja, mais uma batalha se iniciava. Antes de chegar na escada, encontrei Moggie no corredor. Ela me olhou inteira e entortou os lábios – estava desaprovando meus shorts, com toda certeza – todavia, relevou e sorriu para mim, desejando bom dia.
— Pensei que eu fosse última a ter acordado.
— Considerando seu histórico. – Ela soltou um som de inquietação, como um arrufo. — Mas eu já estava acordada, só vim buscar um livro.
— Tenho outros em meu quarto. Obrigada.
Ela me estendeu mas neguei com a cabeça juntamente às palavras de dispensa. A tutora segurou o livro com uma das mãos e enganchou seu braço no meu com a que sobrava. Fomos juntas até as escadas, conversando um pouco.
— Tem certeza que não precisa arrumar distração?
— Não tinha intenção de lhe ofender ontem. Eu gosto da sua companhia.
— Senhorita, não precisa se desculpar. Eu compreendo que jovens precisam de aventura, de desafios, de viver... Já fui jovem também, lembra?
Eu ri e ela também me fazendo carinho na cabeça.
— Talvez eu dê uma volta mais tarde.
— Como quiser. E antes que eu me esqueça... — Ela me parou e segurou em meus ombros. — Acha que seu tio aprova suas roupas?
— Acho que se dependesse da aprovação dele eu nem estaria aqui.
Moggie suspirou cabisbaixa mas não podia discordar. Acho que ela depositou muita expectativa em mim e acabou se frustrando.
— Tente fazer essa convivência dar certo, precisamos de um teto.
— Eu faço minha parte mas você vê ele se esforçar para fazer o mesmo?
Tio James surgiu no topo da escada naquele exato momento.
— Estavam falando de mim? — Nós duas nos voltamos para ele. Enquanto o homem descia os degraus, nossos olhos o acompanhavam. — Posso saber o que era?
— Era sobre nossa convivência em família.
Dei as costas para os dois e segui para a mesa de café. Ao nos ver chegar, todos juntos, Cavanaugh se iluminou.
— Bom dia.
— Igualmente, Cavanaugh.
Em menos de dois minutos percebi duas coisas: Moggie e Cavanaugh estavam interessados um no outro e meu tio tinha ressalvas sobre nosso contato com os empregados e não fazia a menor questão de esconder seu descontentamento. Mas por quê?
— Cavanaugh, sirva-nos. Tenho pressa.
O brilho nos olhos deles se apagou momentaneamente. Após o café ele saiu. Comecei a desconfiar, não de suas saídas, afinal de contas ele devia trabalhar para manter seu estilo de vida, mas sim de seu comportamento. As pessoas estavam sempre me escondendo algo, James não seria exceção.
Era apenas mais um dia entediante e infelizmente, evitar os corredores não era mais uma opção. Moggie e Cavanaugh já estavam achando aquilo muito estranho. Passei a ter receio de transparecer o medo que eu estava sentindo – o que só acabou fazendo-o aparecer. Fui até a varanda respirar um ar puro e olhei para o céu. Estavam se formando nuvens de chuva, o que significava mais tempo presa dentro de casa. Em Leeland, dificilmente era possível presenciar essas manifestações da natureza. Na maior parte do ano só fazia frio e ventos muito fortes atingiam as áreas urbanas, causando destruição. Naquele lugar, as coisas eram diferentes. A natureza era abundante e o regime de chuvas, assim como as condições climáticas, eram muito favoráveis. A chegada dela trouxe consigo o tio James, que frustrou meus planos de dançar na chuva temendo menos ser queimada por sua acidez.
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Legado e Ascensão
FantasíaLizlee Deskran é uma garota que nasceu e viveu em Leeland - a capital do novo mundo, conhecido como Lizma - até o ano 6240 (4.180 anos após um fenômeno global, desencadeado por uma sucessão de cataclismos, resultado de armas biológicas e nucleares q...