— Pensei que tivesse exagerado na dose e te matado sem querer. Ainda bem que acordou, eu estava prestes a começar a orar para as Divindades te trazerem de volta.— Será mesmo?
A voz da doutora que antes era um misto de desdém, descontração e seriedade em que eu só conseguia distinguir a nuance mais séria por previamente conhecer seu lado cético. Mesmo assim, havia um certo nervosismo transparecendo ali. Seria pela minha desconfiança de suas intenções ou por ter sido pega?
Meu estômago revirou e eu me lancei com velocidade para a beirada da cama, vomitando no chão. A minha cabeça também girava sem sair do lugar e latejava um pouco. O meu corpo estava mole, parecia até que estava doente. Porém e apesar do meu estado, eu queria saber que motivos esta mulher teria para me sedar, mas primeiro tinha que colocar ordem nos meus pensamentos. Haviam tantas perguntas sem resposta que eu nem sabia quais priorizar.
— Por que fez isso?
— Eu queria ajudar você. Apesar de que agora provavelmente não vá soar dessa forma.
— Como deveria soar? — Senti minhas bochechas esquentarem com a irritação.
Fiz um movimento como se pretendesse me levantar e vi a mulher prontamente se dispor a afagar os travesseiros para que eu pudesse consertar a postura e ficar confortável. Aquele mínimo esforço me fez notar que os efeitos da sedação ainda não haviam passado totalmente. Era uma sensação estranha aquela que se abateu sobre mim embora também me parecesse, de alguma forma, bastante familiar.
— Lizlee... — A mulher se aproximou, desviando da poça de vômito que eu havia deixado ali. Fiz um sinal para que ela parasse onde estava.
— Eu tive um sonho estranho durante o tempo em que estive desacordada. Nesse sonho a minha mãe era uma feiticeira e a Ordem de Lanóvia veio até nossa casa me levar à força. Meus pais e a Moggie tentaram impedir e foram mortos. Quando vi tudo isso acontecer, uma luz muito forte foi liberada de dentro de mim e vaporizou tudo ao redor.
Quando resolvi que aquela posição me dava mais dor nas costas do que me deixava confortável e que além disso o gosto de vômito na minha boca estava terrível e nojento, me sentei na beirada da cama deixando os meus pés tocarem no chão frio, me obrigando a encolhê-los de volta. Desviei da poça de vômito, fazendo careta ao passar por ela.
— Receio que exista alguma verdade nesse sonho.
Parei imediatamente os meus passos e ergui a cabeça mirando o meu próprio reflexo no espelho que estava posicionado bem à minha frente.
— A sua mãe era a segunda filha de Aubrey Hollunya. Mas por ser a mais velha entre as filhas, era a sucessora de sua Casa. Mas acabou sendo banida por desafiar o Conselho e infringir as leis de Lanóvia ao se relacionar com o seu pai, um Não-Guer. Por isso, sua descendência foi amaldiçoada.
Estava pálida e fiquei ainda mais quando escutei o que aquela mulher disse. Eu estava me lembrando de tudo. Não havia sido um sonho, ela mesma havia me contado aquilo antes de se aproximar de mim com uma facilidade impressionante e me apagar. Eu sequer reagi. Talvez eu estivesse certa em desconfiar da tal esterilização. Teria ela colocado alguma droga naquele tubo?
— Achei que fosse um efeito dessa coisa que você me injetou. Aliás, o que deu em você?
Interroguei seca e ríspida, voltando à realidade, afinal de contas, quem ela achava que era? Observei, pelo reflexo do espelho, que seus ombros caíram. Deveria ter percebido o erro que cometeu e que agora eu dificilmente voltaria a acreditar nela.
— Desde o início dos experimentos eu pude notar duas coisas. A primeira era que as crianças passavam a demonstrar mudanças bruscas no comportamento, incluindo psicose, agressividade, automutilação, entre outros. No fim, as que não conseguiam passar dessa fase, acabavam morrendo ou se matando. A segunda, era que quando os experimentos funcionaram em Sthan, Robertta e Honn, havia um padrão: sempre que expostos a situações de pressão e estresse, eles acabavam "apagando". Sério, eles simplesmente desmaiavam. A conclusão a que cheguei é que essa é uma resposta do sistema de defesa da Matriz Elemental para protegê-la do risco externo.
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Legado e Ascensão
FantasiaLizlee Deskran é uma garota que nasceu e viveu em Leeland - a capital do novo mundo, conhecido como Lizma - até o ano 6240 (4.180 anos após um fenômeno global, desencadeado por uma sucessão de cataclismos, resultado de armas biológicas e nucleares q...