Capítulo XVIII -

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— Não acha que precisa dar um tempo e descansar?

Phil veio até mim e indagou, saltei um pouco assustada pela aproximação repentina e ele acabou parecendo incomodado com a reação que eu acabara de ter. Antes eu conseguisse explicar.

— Não, eu não acho. Como alguém que tem o dever de proteger as pessoas de uma extinção em massa eu estou sendo um fracasso, não acha?

— Na verdade, acho que você está se punindo demais por algo que não fez. Não é culpa sua.

Naquele momento, já estavam fazendo quase dois dias do ocorrido no Templo de Harevna. Estávamos parados em outra vila que compunha os Vilarejos Baixos, chamada Nevasca. Nosso carro havia dado algum defeito de novo e ao invés de aproveitar aquela parada para descansar ou me alimentar direito, fiquei buscando informações a respeito de Accáli nas notícias ou mesmo escutando o falatório do povo nas ruas. Anotava o máximo de peças que conseguia reunir porém não havia quase nada ou algo que fizesse sentido nem para comprovar e nem para refutar minha teoria de que a mataram por tê-la confundido comigo.

Lady Desastre, já está na hora de desistir disso. Essa sua "investigação" não vai chegar a lugar nenhum. — Eirie reclamou. — E mesmo que leve, o que vai fazer depois? Ir atrás dos culpados dando uma de justiceira?

Eu fingia não dar ideia ao que os dois diziam, continuei pegando as folhas com as informações que anotei e me preparava para sair daquele casarão abandonado onde estávamos nos escondendo quando Eirie lançou uma rajada de vento que fechou a porta com tudo.

— Chega, Lizlee! Por que você está tão obcecada pela morte dessa garota?

Parei e fiquei calada por mais um minuto. Eles também não se manisfestaram. Suspirei pesadamente e iniciei, sem me voltar na direção deles.

— A morte do meu pai. Assistir Accáli ser assassinada... me fez lembrar da noite em que eu o perdi. — Senti um aperto no peito e a garganta dar um nó. Me virei então para onde ambos estavam parados também em pé. — A forma como aconteceu, um atirador que ninguém mal viu, foi tão parecido... eu não sei. É como se a mesma pessoa tivesse feito os dois trabalhos.

— Você acha que tanto a morte do seu pai quanto a da garota no Templo tem alguma ligação? Mas qual seria? — Eirie questionou quebrando o instante de silêncio que havia se feito depois da minha revelação.

— Acho que o assassino do meu pai estava atrás de mim e não dele. Isso explicaria ter matado a Accáli por termos semelhanças.

Fiquei séria e as lembranças do baile, a música, os risos, a dança e o sangue ao redor de mim e meu pai começaram a pipocar em minha mente. As coisas que o ouvi contar ao amigo, a nossa conversa e o jeito estranho com que ele agia naquele dia me davam mais certeza que minha linha de raciocínio tinha certa lucidez. A voz de Philip veio ao longe e lentamente ganhou força e nitidez me arrancando do transe.

— Deveria ter nos contado sobre isso. Poderíamos ajudar.

— Como? O que poderiam ter feito? No início eu queria encontrar um jeito de me comunicar com as Divindades para me livrar desses poderes, mas depois... depois comecei a pensar que talvez esses poderes seriam justamente a chance que eu precisava para vingar a morte dele. Só que, independente de encontrar o culpado ou não, nada no mundo traria meu pai de volta. Não pude impedir que ele se fosse, mas com meus poderes deveria ter sido capaz de evitar que o mesmo acontecesse a outras pessoas... e eu não fui.

— Acho que essa é a oportunidade que você precisava — Eirie começou a falar saindo da penumbra de um dos cantos da sala completamente empoeirada do casarão e vindo até mim — para entender a importância de começar a valorizar o meu conselho e seguir a merda do plano.

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