Eu estava correndo, mas parecia que as minhas pernas não se moviam. Algo fazia com que me sentisse pesada e cansada, no entanto, eu sabia que precisava fugir. Agora os barulhos dos tiros se faziam mais altos do que antes e os projéteis, que cortavam os ares, lentamente, sem cair; passavam rente ao meu corpo, atingindo-o em vários lugares e me fazendo cair. Mesmo assim, eu precisava me levantar e continuar. Mas porque mesmo eu precisava levantar? Esqueci.
Sinto que estava perdida, até que então, escuto uma voz fraca e cansada chamar meu nome. Olho para todos os cantos e não consigo enxergar nada ou ninguém; só consigo encontrar o seu emissor, quando realmente me esforço em não somente ouvir, mas também escutar. Era Queen quem chamava por mim. Ela estava caída no chão, sangrando muito. Me aproximei e delicadamente coloquei sua cabeça sobre o meu colo, notando que era esse o local atingido. O ferimento dela era grave e eu não tinha ideia do que fazer para acalmá-la, - pois a garota se encontrava agitada - mas prometi que ela ficaria bem. Peguei no colo, a pequena e frágil Queen, e continuamos o caminho juntas. Durante todo o tempo, tentei fazer com que ela conversasse, para ter certeza que a menina ainda vivia.
Entretanto, inevitavelmente, era tarde. Foi tudo rápido demais. Não a vi partir. Eu não estava lá, verdadeiramente, para segurar sua mão, dizer que "estava tudo bem" - mesmo que não estivesse - e presenciar seus últimos segundos de vida. Quando percebi, ela estava pálida e fria. Imóvel em meus braços. O que me restou foi entrar em desespero. Caí. Caímos juntas, na verdade. Gritei até enrouquecer e o som insistia em retornar para mim, como um eco numa sala vazia e completamente sem saída.
Mas o suplício ainda não tivera seu fim. De repente começou a chover e não era uma chuva comum. Era uma chuva de sangue. E o nível daquele líquido viscoso, aumentava de forma assustadoramente veloz. No fim, ele começou a inundar o lugar e em algum tempo, eu estava me afogando nele.
[...]
Acordei sufocando com a minha própria saliva e acabei empurrando Robertta para o chão. A garota deu um grito de espanto, decerto ficou enfurecida ou no mínimo sem compreender o que se passava.
- Qual é o seu problema?
No instante em que ela gritou, Honn e Kell também acordaram. Todos ficaram me encarando, atônitos e com a cara amassada de recém despertos.
- Me desculpem, por favor. Eu juro que não quis acordar ninguém.
Juntei as mãos rogando a compreensão de todos. Kell deu de ombros e se levantou, deixando um beijo no topo da cabeça de Honn.
- Tudo bem, já estava na hora de acordar mesmo.
Robertta colocou as mãos na cintura e olhou para os amigos, rebatendo com arrogância.
- "Tudo bem", nada. Diz isso porque não foi você quem essa doida jogou no chão.
- Robertta, chega. Pega suas coisas e vamos embora. - Disse Kell, enquanto ia até a pequena pia que ficava num canto do quartinho e em seguida, jogando água no rosto.
- Quem foi que te nomeou o líder? Vocês nem deveriam estar aqui. Já pegaram minha cama e agora querem tomar a minha liderança também?
- Sua liderança?
Kell virou para ela, rebatendo-a no mesmo tom.
- E a história do "podemos ser donos das nossas próprias vidas"? Seu pai não te transmitiu essa parte ou você, por conta própria, preferiu fingir que não escutou?
Agora os dois estavam cara a cara. Robertta levantava a cabeça para parecer mais intimidadora, ao passo que ele só precisou baixar um pouco o olhar, pois intimidador sempre esteve. Honn resolveu apaziguar, espaçando-os o suficiente para ter como segurar firme a face de seu noivo e fazê-lo olhar em seus olhos. Ela gritou com ele até que o garoto desistisse da discussão e saísse batendo a porta, bufando e pisando alto.
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Legado e Ascensão
FantasyLizlee Deskran é uma garota que nasceu e viveu em Leeland - a capital do novo mundo, conhecido como Lizma - até o ano 6240 (4.180 anos após um fenômeno global, desencadeado por uma sucessão de cataclismos, resultado de armas biológicas e nucleares q...