Capítulo XXXVIII -

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As horas que se seguiram foram tediosas. Apesar da palpitação que comecei a sofrer depois do almoço me fazendo repensar as opções a) fugir e me esconder novamente ou b) escolher lutar antes que ficasse tarde demais para isso. De certa forma eu já havia escolhido. Estava aqui. Com os rebeldes. Vacilava pensando em fugir, mas também, um homem do qual não sabia praticamente nada a respeito havia me ameaçado a ficar e isso eu não poderia admitir. Ninguém deveria ter de defender uma causa por obrigação, mas sim porque acredita nela.

Então, suportei o tédio e os olhares dos soldados que ainda circulavam pelo abrigo subterrâneo. Tudo ficava mais movimentado com eles e também ativava meu estado de alerta, era uma espécie de bloqueio inexplicável com pessoas usando uniformes. Sérgio deveria estar se articulando para fazer com que eles permanecessem até que o acordo fosse firmado, e de alguma maneira, o longo e desagradável cortejo fúnebre do Sthan que se seguiria por mais tempo, oferecera um pretexto suficientemente sólido para que eles não partissem. Isso me cheirava a culpa. A culpa pela morte do garoto e por não intervir no conflito quando podiam ter evitado um estopim. Talvez o próprio Comando tenha esticado a estadia deles por aqui, sabendo que as chances de um outro ataque eram iminentes e eles seriam um aditivo importante numa possível batalha. Assim como eu seria se não houvesse interrompido o treinamento.

Todavia, mesmo estando em maior número, não era a presença deles o que me incomodava e sim a presença de um soldado em especial. Alarik. Sem patente e sobrenome que precediam. Ele simplesmente quis ser informal ou forçar uma proximidade que claramente não tínhamos. Eu não fazia ideia de quem ele realmente era e por mais que tentasse passar despercebida, ele estava em todo o lugar. Mesmo sem enxergar, aquele homem aparentemente conseguia acompanhar meus passos e menores movimentos, o que provavelmente era só paranóia minha.

Mas e se ele tivesse me seguido quando encontrei Maya e Peter? E se ele reportou isto aos seus superiores? E se ele ouviu nossa conversa sobre a suposta reunião secreta que teremos à noite? Impulsionada por esses pensamentos, tomei o último gole d'água que restara e o bati contra a mesa. Empurrei a cadeira e, perdendo a compostura, caminhei até ele.

- Você está me incomodando - disse.

- Me diga o que posso fazer para mudar isso e eu farei.

Bufei e apoiei as mãos espalmadas sobre a mesa num estrondo. Faíscas azuladas correram em minha pele descendo velozmente por entre meus dedos, crepitando acima do metal. Afastei as mãos rapidamente.

- Está enfrentando problemas com seus poderes?

- Não tente mudar de assunto - balancei a cabeça em negação. Me sinto perseguida.

- Sugiro que acione a segurança.

- Por você - sibilei entre os dentes.

- Então chame os soldados da Azkaere - respirei, dei meia volta. Não vale a pena. - Problemas com os poderes ou a senhorita apenas estava tentando soar ameaçadora?

- Um pouco de cada. Eu acho.

- Quando era garoto passei por problemas semelhantes com relação aos meus poderes. E tudo se resolveu quando dei um propósito a eles.

Meus ombros caíram. Queria dizer que relaxei, mas isso não estava nem perto de ser verdade.

- As pessoas com quem poderia conversar sobre isso ou sabe tanto quanto eu, ou me odeia, ou não consigo alcançar pois está séculos na minha frente - admiti. - Não é a primeira vez que sofro essas oscilações, então, acho que posso me virar.

- Bem diziam: "o pior cego é aquele que não quer ver" - Alarik rebateu.

- Como você poderia ter algo a me ensinar se os nossos poderes não tem qualquer ligação?

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