Capítulo XV -

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   O sol brilhava soberano acima de nossas cabeças, como um imperador ditando suas mais severas condições. Em contrapartida, a brisa que vinha do mar era como sua imperatriz que em bondade amenizava a ação do seu amado esposo o "Imperador Sol". A areia da praia representaria nesta alusão os filhos deste casal. Ora brincavam ondulando o caminho, ora me irritavam por como só conseguia andar devagar – muito mais portando aquele vestido – e acabavam sendo mais um estorvo do que outra coisa qualquer. Tirando toda a beleza mórbida e acinzentada daquela paisagem. E aquela caminhada se tornara um suplício a cada passo dado. Infelizmente minha mente funcionava metaforicamente com determinada constância, era um exercício bem-vindo em muitas ocasiões, mas não tinha certeza se aquele era o caso. Era a minha fuga da realidade.

— Será que você não poderia andar mais rápido?

   Eirie exclamou em alto e bom som, começando a reclamar da minha lentidão. Mexi na barra do vestido tentando segurar na esperança de conseguir ser mais ágil.

— Diz isso por que não é você quem está andando com essa coisa.

— Ela tem razão, o vestido está atrapalhando. Ela está acostumada a se vestir com roupas bem mais leves. – Philip comentou com o amigo. Eles pararam e se viraram para mim.

— Ah, muito obrigada por notar que essa roupa está me matando.

Inclinei um pouco o corpo colocando as mãos nas coxas por cima do vestido e respirando fundo.

— De qualquer forma ela vai precisar andar com elas. Bom que isso serve como um treino.

— Sabe uma coisa que poderia dar certo? – Tentei sugerir algo. — Arrumar um outro caminho pela floresta, talvez...

— Não vai rolar, Lady Desastre. E você sabe muito bem porquê.

   Murmurei as minhas reclamações enquanto os dois voltavam a caminhar pouco mais a frente, conversando seus assuntos secretos enquanto eu ficava de fora. Queria saber o que se passava. Talvez eu pudesse ajudar. Talvez eu conseguisse enxergar uma saída que eles não estivessem conseguindo ver. Mas eles preferiam fazer tudo sozinhos e sem pedir minha opinião.

— Parem! Vocês dois... apenas parem. – Apertei os olhos. — Eu sei que vocês acham que não tenho muito a acrescentar, mas está na hora de parar de fingir que isso vai resolver o problema.

— Não, vai com calma. Do que é que você está falando?

Retirei a capa de meus ombros e deixei que ela caísse ao chão. Eirie me encarou, sabia que ele estava irritado, por que me olhava como se fosse avançar em mim, mas eu precisava me impor.

— Não vou fingir ser outra pessoa de sei lá onde e que age de outra maneira. Sinceramente, como isso resolve o problema de estarmos sendo perseguidos? Eles sabem como somos, já estamos marcados. E mais uma coisa. Eu acho que quero... Não! Eu quero participar dos assuntos e planejamentos. Isso tudo também diz respeito à mim.

Ergui o queixo tentando me manter firme, deixando claro que não iria ceder a qualquer argumento barato mesmo sabendo que haveria um contra-argumento.

— Acho que você não entendeu o que está se passando. E como poderia? Vivia alienada de tudo até semanas atrás, no conforto da sua ignorância. Você é um erro.

   Ele ameaçou dar um passo em minha direção e Phil segurou em seu ombro, garantindo que ele parasse ali mesmo. Eirie olhou para o amigo, sacudiu o ombro desvencilhando-se e depois, com o olhar desafiador, continuou vindo até mim. Balançou a cabeça de um lado para o outro e estalou a língua.

— Se se destacar dos outros em Lanóvia será descoberta e abatida antes que possa piscar os olhos.

— Digamos que eu aceitasse, por que só eu tenho que mudar? Por acaso eles só notam mulheres e sua falta noção para o código de vestimenta?

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