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Enquanto comia os pães que Lia havia separado para mim, eu ouvia as empregadas conversarem. Desde mais nova eu gostava de economizar tempo, então, meu café da manhã era ao lado de Luci, ali mesmo na cozinha, em meio aos ingredientes que seriam utilizados na preparação das refeições do dia.

Os funcionários separavam um pequeno espaço numa das grandes mesas e dispunham somente aquilo que sabiam que nós comeríamos, assim, o desperdício era evitado e o trabalho deles facilitado. A verdade é que, enquanto mamãe estava viva, eu sempre tomava café no grande salão com ela, mas depois de seu falecimento, minha vida mudou muito e eu também.

A cozinha estava a todo vapor hoje, os empregados comentavam sobre a grande noite de ontem. Estavam eufóricos, ao que tudo indicava, todos se surpreenderam com o banquete que eles haviam preparado e comeram até mais do que deviam. 

O dia anterior foi marcado pela chegada dos nobres visitantes, durante toda manhã, tarde e anoitecer, o castelo estava como nunca visto antes: empregados indo de um lugar a outro apressados a fim de arrumar todas as acomodações perfeitamente, enquanto outra parte da equipe preparava grandes porções de comida incessantemente; pessoas de diversos lugares eram apresentadas ao grandioso edifício, e contemplavam sua beleza, de seus campos, jardins e todo o restante. 

Eu estava me esquivando de todos eles, não saí do meu quarto até esta manhã em que fui ao quarto de Luci, não queria os ver, mas a hora tinha chegado, infelizmente.

conhecia boa parte das visitas só pelo que os funcionários cochichavam, tive certeza que tomei a decisão certa de não ter participado do grande jantar de boas vindas. Foi como eu esperava: vozes elevadas, muita bebida, reis arrogantes se vangloriando por terem feito nada mais que suas obrigações, falsidade e por aí vai. 

"Vai ser realmente uma pena eu estar tão indisposta justo nesta noite tão importante". Rio fraco ao lembrar-me da feição de Lia quando me ouviu dizer estas palavras. Ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que inventar uma desculpa para o meu não comparecimento, de certa forma, ela me entendia, toda essa situação não era de seu agrado também.

Eu não era do tipo de pessoa que se incomodava com a presença de pessoas, como muitos achavam, só não gostava de estar em meio a futilidades e, com toda certeza, era uma das coisas que mais encontraria pela frente, isso porque, pela primeira vez em muitos anos, A Conferência seria em nosso castelo, em nossas terras. 

Reis, suas famílias, seus homens de confiança e outros nobres se reuniam para manter as relações amistosas, embora em seus respectivos castelos, seus exércitos estivessem prontos para começar uma guerra em instantes. 

Esse encontro não era anual, pois, a distância entre os reinos era muito grande, além de serem bem diferentes, com certeza, era muito difícil se adaptar às condições climáticas e relevos tão diferentes. 

Além do que, não era viável fazer longas viagens que poderiam durar meses todos os anos, sendo tudo estava bem, haviam poucos desentendimentos em vilarejos vizinhos, mas nada que fizesse reis tirarem suas bundas gordas de seus tronos, não era nada de muito importante.

Não sabia ao certo o porquê das conferências acontecerem, e com toda certeza não acreditava nessa desculpa de aproximação afetuosa. Reis e rainhas gostavam de esbanjar suas riquezas, gostavam de receber outros nobres, mas nada que durasse muito, eles não suportavam segurar a máscara de amáveis por muito tempo, a não ser que algo de importante estivesse acontecendo ou prestes a acontecer, e era exatamente o que A Conferência exigia que fizessem, serem gentis uns com os outros, o pior de seus pesadelos.

Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora