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O caminho de volta fora mais tranquilo. A tarde continuava quente, mas aos poucos o sol ia se despedindo, deixando apenas alguns raios de luz desenhando o céu.

Triunfo e eu chegamos mais cedo do que esperávamos, e por isso fomos dar uma rápida volta pelo jardim do castelo. Deixei que o garanhão assumisse o controle e, por esse motivo, depositei minhas mãos, que antes estavam nas rédeas, em sua crina macia e aproveitei para lhe fazer um demorado carinho. 

O dia não tinha sido como eu gostaria que fosse, mas agora, aproveitando da companhia de meu querido companheiro, as situações ocorridas pela manhã, pareciam bem mais distantes e não me afetavam tanto quanto pensei que afetariam. 

Após alguns minutos de caminhada pudemos ouvir alguns zumbidos que julguei ser vozes de alguns nobres que possivelmente tiveram a mesma ideia que nós. Nossos jardins eram famosos e tinha certeza que todos se renderiam aos seus encantos.

Mais uns poucos instantes e uma figura agradável fez-se visível.

— Chegaram bem na hora! — Felipe se aproximava com um largo sorriso contagiante.

— Não tivemos escolha, não é mesmo? — Respondi de forma educada sem o menor resquício de aborrecimento.

— Humm... Alguém aqui parece estar de bom humor... — Felipe mantinha os olhos levemente estreitados como se pensasse em algo. — É bom mesmo, você vai precisar.

— O que você quer dizer com isso? Por acaso sabe de algo que eu ainda não sei? 

— Mantenha-se comportada. Você não quer causar más impressões, não é? — Desta vez seu tom de voz era mais baixo e cauteloso, contrastante com o meu, um tanto quanto exaltado. 

Vasculhei a área e entendi bem o que ele queria dizer. Não estávamos totalmente sozinhos, a alguns metros, três figuras nos observavam: duas delas eram bem avantajadas e pude reconhecê-las de imediato; a terceira se encontrava sozinha um pouco distante das demais, e mesmo com a distância e a luminosidade baixa, consegui identificá-la.

— Essa cara de quem comeu e não gostou não está ajudando em nada.

— E o que você quer que eu faça? Quer que eu salte por aí os chamando para brincar de ciranda?

 Ao perceber que meu mal humor estava de volta, o jovem apenas suspirou profundamente lançando-me um olhar cansado. Neste instante percebi que, levar Triunfo, era sua última tarefa do dia a ser cumprida. Para não me sentir mais culpada, desmontei do cavalo e entreguei-lhe as rédeas. 

— Eles são gentis e não fizeram nada de mal para você. — Ignorei as lembranças que vieram em minha mente. O nobre rapaz que nos observava não havia sido a pessoa mais agradável e gentil do meu dia, mas talvez Felipe tivesse razão. — Deixe para usar sua ironia com Hugo. — E foi com um rápido levantar de sobrancelhas que ele se despediu, levando o garanhão para longe. 

Sabe-se lá quantas vezes na tarde, Felipe teve que ouvir indagações sobre mim. Hugo, com toda certeza, ficara o importunando, do contrário, o jovem não teria sugerido ironia em meu futuro diálogo com meu tio. Ele era um rapaz muito amigável, e não gostava do tom irônico e sarcástico que eu tanto costumava ter, e por esta razão, ver-lhe sugerir que o usasse não significava algo bom.

Apesar de eu ser a mais velha, costumava seguir seus conselhos, mesmo que fingisse que não. De fato a dupla rechonchuda havia sido agradável comigo mais cedo, por esta razão, lancei-lhes em aceno com a cabeça discreto e firme, logo em seguida saí do campo de visão sem ao menos esperar qualquer tipo de resposta.

Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora