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A vida é feita de histórias. Contá-las é vivê-las por mais um instante. 


— Nos jogaram dentro de um caldeirão  e esqueceram de avisar?

Pela vigésima vez na tarde, Bernardo se queixava do calor. Não podia culpá-lo, a impressão que eu tinha era que a cada minuto a temperatura só aumentava.

— Ah, querido, talvez seja melhor voltarmos lá pra dentro. 

— Não, meu bem. Vamos continuar o nosso passeio. — O barbudo colocou uma das mãos nas costas da amada para guiá-la até uma parte ainda não explorada.

Eu permaneci a maior parte do tempo alguns passos para trás. Gostava de ver suas interações. A forma carinhosa e cuidadosa a qual eles se tratavam era fascinante.

Pelo o que me contaram, pessoas do norte tinham a fama de serem frias e de poucas palavras. Bem, o casal à minha frente, com toda certeza não era frio, e Pedro, com toda certeza, não era do tipo que mantinha a boca fechada.

— Will, querido, vamos nos sentar um pouco. — Catarina apontou para dois bancos de pedra logo à nossa frente. 

Ficamos sentados em silêncio por longos minutos, eles dois dividiam o assento e eu permanecia só. 

Mais uma vez me vi deslumbrado diante dos encantos do castelo. Os jardins eram monumentais. Haviam espécies de flores que eu nunca vi em toda a minha vida e duvidava que encontraria em outro lugar.

As cores, os aromas, os sons que alguns animais faziam em meio a flora, tudo era tão vívido. Senti certa inveja dos moradores dessa região. Não se encontra tanta diversidade em meio a montanhas. 

— Olhe só para ele, parece o mesmo menino sonhador de anos atrás. — A voz de Bernardo tirou-me de meus pensamentos.

 Ambos me encaravam e, só então, percebi que estavam falando de mim, e que possivelmente estivessem falando comigo antes disso.

— É lindo não é, meu bem? — Catarina como sempre muito amorosa.

— Sim... Vocês acham que podemos levar algumas delas para casa? — Nunca fui de me importar com esse tipo de coisa, mas diante de tamanha beleza, senti vontade de ter, pelo menos um pouco, de tudo isso.

— Levar você até pode, mas elas não resistiriam ao clima de lá. 

— É mesmo, querido, bem lembrado. 

Apesar de sentir certa decepção, achei melhor mesmo que todo esse encanto ficasse aqui. Esse lugar era mágico e especial e deveria permanecer assim: único. 

Meu pai costumava dizer que: viver bem o momento era primordial, assim, seria possível contar histórias sobre ele e, que quanto mais você vivesse, mais histórias teria para contar. Mal podia esperar para dizer-lhe tudo, mas para isso, era preciso vivenciar experiências novas e estávamos apenas no segundo dia.

— Senhora. Senhores. Boa noite. — Olhei para meu lado esquerdo e vi um rapaz com mais ou menos minha idade parado com as mãos atrás do corpo.

— Boa Noite? — A expressão de incredulidade no rosto de Bernardo era impagável. — Mas ainda está claro... e quente!

— Pelo visto nossos visitantes das montanhas estão apreciando bastante o clima. — Não pude deixar de sorrir diante do tom irônico e descontraído que ele utilizou e pelas feições de desagrado de meus companheiros.

Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora