21.

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— Bom dia, Túlio, como vai?

Percebi que o rapaz se ajeitou na cadeira a fim de disfarçar o susto que levou. Ele estava sentado de costas para a porta e bem de frente para a janela para aproveitar a luz natural, o que facilitava minha chegada discreta.

Haviam vários papéis espalhados pela mesa, mas não ousaria dizer que era uma bagunça, tudo parecia muito bem setorizado e, após me olhar rapidamente, o moço se virou e começou a pegar alguns deles.

— Como vão as coisas? Bem..

— Não. Como vai você?

A pergunta lhe parecia ser inesperada e era mesmo. Quando entrei em minha sala, fiquei o observando por instantes e pude ver o quanto se empenhava. Túlio curvava a coluna e quase enfiava a cabeça em suas milhares anotação. Reparei que era muito metódico e ia mudando constantemente os papéis de lugar, até que tudo estivesse perfeito.

Ele era de fato excelente e identifiquei certa grosseria de minha parte. Eu sempre era muito prática, recebia suas informações, agradecia e ia embora, mas nunca me preocupava com ele, se estava bem ou se gostaria de fazer outra atividade no castelo que não fosse me auxiliar.

— Eu estou bem, Princesa.

— Mesmo? — Me aproximei calmamente para não alarmá-lo, o que pareceu não funcionar muito bem.

— Aconteceu alguma coisa, Princesa Tatiana? — O rapaz continuava sentado, o que só aumentava a sensação de estar levando uma bronca.

— Se tivesse acontecido, você saberia.

— Ah! É mesmo! — Sua expressão se suavizou, ele deve ter notado meu tom calmo e despreocupado.

— Túlio... Você gosta de trabalhar comigo? — Sabia que perguntas diretas eram as piores para se conquistar respostas, mas o rapaz diante de mim já me conhecia o suficiente para saber que eu não gostava de enrolação e era esperto o suficiente para saber se estava sendo enrolado ou não.

— Sim!

— Bem... Humm... Gostaria de trabalhar em outra área do castelo? Talvez com Hugo... — Meu tio não era a pessoa mais fácil de se lidar, mas negar que seria uma excelente oportunidade para ele seria extremamente absurdo.

— Não, por favor! — Seu olhos se arregalaram diante da proposta e eu soube que não era preciso insistir. Se ele quisesse explorar novas áreas, teria deixado transparecer, mesmo involuntariamente.

— Tudo bem. Como vão as coisas? — Desta vez apontei para a mesa e suas anotações.

— Ah! Sim. Então... Will acordou mais cedo e foi direto pra cozinha. — O rapaz ia virando as páginas. — As meninas me disseram que ele pediu permissão para pegar umas frutas e logo foi lá pra fora. — Chegava a ter ser divertido ver Túlio chamar as empregadas mais velhas, responsáveis pelas refeições, de meninas. — O que não é nada incomum, ele sempre faz isso, princesa.

— É mesmo?

— Sim, o príncipe tem apreço pelos jardins do castelo e passa a maior parte dos dias andando entre as flores.

De fato havia o visto uma vez com Bernardo e Catarina após chegar do passeio que dei com Triunfo e ontem, em frente ao labirinto, na companhia de uma bela moça.

— Humm... — Até então nenhuma informação útil, no entanto, só estávamos no início da manhã, não poderia exigir muito de meu auxiliar. — E o que mais?

Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora