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Em todo final de ciclo, o castelo era tomado por uma euforia quase contagiante, todos ficavam felizes, já que, há muito tempo, não víamos escassez de comida, pelo menos não sob nosso teto. O jantar de ontem havia sido simplesmente um banquete magnífico. William parecia satisfeito, em seu lugar, eu também estaria, nada melhor do que comemorar uma vitória indiscutível desfrutando de sabores únicos, mesmo com a comida boa, Bernardo parecia levemente irritado, algo incomum, ainda mais durante uma refeição.
Mesmo que até eu tenha ficado de bom humor, não demorou muito para lembrar o motivo da festividade: meses de trabalho árduo.
"Não temos em casa!", Heitor me disse após eu ter lhes perguntado o porquê de terem roubado a maçã. Hugo mantinha-me afastada dos assuntos do reino, aos poucos eu tentava chegar mais perto de meu povo e entender suas necessidades, hoje seria minha melhor chance, como sempre.
Olhei para o espelho e logo atenuei a expressão, antes mesmo que Lia me repreendesse. Não poderia me esquecer de parecer feliz e agradecida, como de fato estava, eles mereciam.
— Já chega de tranças, não acha que já está bom? — Tateei o penteado e consegui identificar várias finas tranças que percorriam toda a extensão dos fios.
— Não, você tem muito cabelo, elas vão sumir aí no meio. — Lúcia respondeu. Eu a observava pelo espelho, sua concentração era admirável. — Só mais uma aqui e duas aqui — Apontou precisamente e Lia assentiu.
Eu estava bonita, não como uma das outras nobres, mas pelo menos me sentia bem, as duas, de fato, fizeram um bom trabalho, meus longos fios negros estavam enfeitados por várias trancinhas que se uniam em uma trança central.
— Está feito. — Lia disse e pegou um pequeno espelho para que eu pudesse enxergar o penteado.
— Ficou lindo, obrigada. Agora posso ir? — provoquei.
— Fique em pé, deixe eu dar uma última olhada...
Girei meu corpo calmamente para que ela pudesse me analisar por completo.
— Satisfeita, mocinha? — Lúcia confirmou com um sorriso — Está certo, não demoro, logo estarei de volta. — Depositei um beijo em sua testa e saí.
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Durante o caminho até o estábulo, ouvi a voz de Hugo, não pude deixar de me aproximar, a porta estava convidativa demais, por estar entreaberta.
— Já foram avisados? — Um homem perguntou. Não reconheci a voz.
— Quase todos, mas à tarde tudo estará pronto. — Hugo respondeu satisfeito.
Era difícil demais entender sobre o que conversavam, nenhum contexto surgiu em minha mente. Nada estava marcado para o dia de hoje e os seguintes, não que eu soubesse.
— Acha que ele será um problema? — O homem perguntou sem tom temeroso.
— Ele quem? — Hugo parecia estar de bom humor e, por isso, o meu aos poucos foi embora.
— Do Norte. — respondeu secamente, como quando se é obrigado a repetir informações óbvias.
— Ah, ele? — Hugo perguntou com descaso. — Com toda certeza não, ele é só mais um rapaz inofensivo.
Tínhamos três visitantes do Norte, com certeza não estavam falando de Bernardo e algo me dizia que Pedro também não era o centro das atenções.
Aproximei-me da abertura até ficar bem em frente à fresta de modo a enxergar parcialmente o ambiente, só então percebi que meu tio conversava com Magnus, os dois tinham posturas relaxadas, mas a feição do mais novo permanecia dura como de costume.
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Amor Fati
FantasyTatiana é uma princesa que aprecia o silêncio e quietude, mas se vê numa situação incômoda: diversos nobres ficarão hospedados em seu castelo para a famosa Conferência a fim de estreitarem laços gastos pelo tempo, mas o que parecia ser uma reunião a...