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— Isso é estranho. — Ele me disse e logo em seguida enfiou mais um pedaço de carne na boca.

— O que é estranho? — estávamos sentados num pequeno muro perto da cozinha, era seu horário de almoço e eu fazia companhia, ou ele me fazia companhia, não saberia dizer.

— Assim... — mastigou o alimento com rapidez — Ele nem é daqui... — por fim engoliu — É estranho sentir sua falta...

— Quem? — perguntei sem dúvidas.

— Will. — Levou aos lábios o copo de vinho e deu um generoso gole, não deixando uma gota sequer.

— Você o considera amigo? Não é estranho sentir falta de amigos... — Eles tinham relação amistosa desde o início e Felipe era um tanto quanto apegado.

— Não é bem assim. É estranho porque sinto como se ele fosse um de nós...

— Hum... — Eu olhava para a grama sem saber o que responder.

— Você não me entende, né? — dei de ombros e ele riu — Tá bom... Vou tentar explicar direito. Pra mim, é como se Will já fizesse parte... — os pensamentos pareciam confusos em sua mente — O castelo parece incompleto sem ele, isso é estranho.

De fato era algo estranho, William havia chegado há pouco tempo e, assim como os outros nobres, estava apenas de passagem, não demoraria muito para voltar para casa, Felipe dizer que sentia o castelo incompleto sem a presença do nobre, era algo realmente surpreendente para mim, no entanto, sabia que ele não parava quieto, ia de um lado para o outro e, segundo Túlio, William gostava de o acompanhar, não me espantaria em saber que eles conviviam bem mais do que eu e Lúcia.

— Felipe?

— Hum? — sua coluna estava levemente curvada e os pés balançavam ritmadamente.

— Você gosta dele?

— Claro que sim — deu uma risadinha. Me respondeu como se fosse óbvio, mas ele não havia entendido a pergunta.

— Não, não é isso, quero saber se você está interessado nele... — na mesma hora, o rapaz virou a cabeça em minha direção e seus olhos se arregalaram. — Tudo bem... Não há nada de errado...

— Tatiana, você acha que eu... Não! Definitivamente não! Não mesmo, eu juro! — suas mãos sacudiram no ar com veemência.

— Tudo bem, eu não queria me meter, é só que... Você sabe que eu não me importo.

— Eu sei... — suas sobrancelhas estavam quase juntas e sua respiração acelerada. — Obrigado. — agora com a cabeça baixa, ele olhava para o próprio colo, suas bochechas estavam rosadas.

Me senti culpada por lhe fazer uma pergunta tão íntima, mas minha preocupação falava mais alto, Felipe era um rapaz sentimental, mesmo que não demonstrasse tanto, sabia que ele sofria por ser diferente e eu faria de tudo para apoiá-lo, queria que soubesse que comigo poderia ser ele mesmo, ainda sim, sabia que se ele quisesse ficar seguro, manter tudo em segredo, era o certo a se fazer, ainda mais quando possivelmente o caso envolvia um nobre.

— Tatiana... — olhei-o de lado — Obrigado, de verdade. — O rapaz deu um beijo em minha mão e entrelaçou nossos dedos.

Ficamos minutos em silêncio fugindo de nossas responsabilidades, eu mais ainda, já que a hora de descanso era dele e não minha, mas estar ali, deixando a brisa soprar todos nossos pensamentos para longe, parecia fazer sentido.

Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora