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— Desclassificada.
Desclassificada? Como eu poderia ser desclassificada se tinha seguido as regras? Se o desonesto fora o rapaz patético que não sabia dar um soco que preste e que agora estava caído no chão? Não fazia o menor sentido, até que uma teoria passou pela minha mente.
Uma flecha. Sim, uma flecha havia passado por mim em algum instante, embora no momento, eu não tivesse dado a mínima importância, pois estava ocupada com o babaca do soco vergonhoso. Possivelmente alguém tentou parar o idiota antes de mim, e se esse fosse o caso, tal atitude seria tida como ajuda externa, mesmo que eu não tivesse requisitado.
Vasculhei o campo e senti que meu coração estava prestes a rasgar meu peito de tão forte que batia diante da cena que meus olhos captaram: havia uma única pessoa segurando um arco, era o estúpido "olhem como sou adorável, me chamem de Will, ganhei as provas, fiquei em primeiro, sorriam para mim" Sr. William.
Ao seu lado, Felipe se apoiava numa espécie de muleta, eu não percebi quando retornou, mas a julgar pela expressão, ele havia presenciado tudo. Aliás, todos tinham feição de choque, contrastante com o semblante sério do insuportável queridinho do dia. O silêncio era tão profundo que eu quase era capaz de ouvir as batidas do meu coração.
Eu estava tão perto. Tão perto de vencer. Tão perto de manter a companhia em segurança. A frustração era grande demais, só não era maior do que a raiva, meu corpo estava fervendo, e não era por conta do sol forte.
Por que mais uma vez se intrometeu onde não foi chamado? Por que agiu de maneira tão arrogante? Ficar em segundo não era suficiente? Queria me ver perder? Ele não havia causado boa impressão desde o primeiro momento e, quanto mais o tempo passava, mais me aborrecia.
Saí do campo de provas pisando forte, eu andava tão rapidamente que o vento batia contra meu rosto fazendo com que o suor desse ligeira sensação de frescor. Passei reto por todos, não fiz contato visual com Felipe, Edgar e muito menos Hugo, mas senti o peso do olhar de todos.
Meu tio, com certeza, estava satisfeito com o resultado, tinha a impressão que ele mesmo havia dado o veredicto e não meu mentor, mas não poderia ter certeza, pois na hora, meu cérebro só se concentrou na palavra e não em quem havia a dito.
— Tatiana! Tatiana, espere. — Pude ouvir a voz de Felipe, mas o ignorei e continuei até que estivesse dentro do corredor, longe do alcance dos olhares dos curiosos. — Ei, como você está?
O mais novo me alcançou com dificuldade e examinava meu rosto. Afastei-o, pois não conseguia me manter quieta e não queria ter alguém encostando em mim, estava muito quente.
— Você viu? Você viu aquilo? Quem ele pensa que é? — Por sorte, minha voz elevada era abafada pelos gritos de empolgação da plateia que comemorava o fim do torneio.
— Tatiana, só tente se acalm...
— Princesa! — Atrás de Felipe, a uns dois metros, a figura do príncipe fez-se visível.
— Tire esse idiota daqui!
Berrei para Felipe, a essa altura uns poucos funcionários do castelo e alguns participantes dos Jogos, já haviam adentrado no corredor e se aglutinavam atrás do loiro. Me dei conta de que havia feito uma péssima escolha, essa era a área dos competidores, onde todos esperavam até que fosse o momento do pódio ser anunciado.
— Tatiana, controle-se. — Ao contrário de mim, Felipe quase cochichava.
— Princesa, me desculpe. Eu só estava tentando...
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Amor Fati
FantasyTatiana é uma princesa que aprecia o silêncio e quietude, mas se vê numa situação incômoda: diversos nobres ficarão hospedados em seu castelo para a famosa Conferência a fim de estreitarem laços gastos pelo tempo, mas o que parecia ser uma reunião a...