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Como esperado, Triunfo e eu chegamos primeiro, William deu milhares de justificativas pelo segundo lugar, mas no fim aceitou sua colocação com bom humor. Assim que chegamos na cidade, deixamos os garanhões com o cavalariço e seguimos em direção a festividade.

— O que exatamente é esse evento? — William me olhou de relance. Estávamos lado a lado.

— É uma espécie de confraternização. É o fim da colheita.

— Hum... E o que eles fazem?

— Várias coisas... — A resposta parecia não ser o suficiente, já que ele me encava esperando por mais. — Eles fazem comidas típicas, bebem, as crianças brincam, os jovens aproveitam o momento de folga... Sabe, sem precisar de ajudar os pais ou cuidar dos mais novos... — Felizmente, a maior parte do caminho havia sido feita em silêncio, explicar algumas coisas agora parecia justo.

— Legal. — Ele olhava em volta, capturando cores, sons e qualquer outra coisa que nos rodeava.

Continuamos andando entre as pessoas, cada um de nós já estava com uma caneca em mãos e vez ou outra pegávamos guloseimas que nos ofereciam.

— Aqui estão as suas, meu bem... — Uma senhora entregou à William um saquinho com diversas sementes e no mesmo instante ele me olhou confuso.

— Isso é de comer?

— Só se quiser ter complicações intestinais.

— Complicações intestinais. — Ele repetiu rindo enquanto analisava a diversidade das sementes.

— Oi! — Uma jovem se aproximou de mim. — Esqueceram de você hein?

— Não precisa... — Tentei me desvencilhar de suas mãos, mas a garota era ágil e, com sucesso, conseguiu amarrar o avental em volta de minha cintura, logo ela se afastou, não antes de lançar um demorado olhar à William, para sua infelicidade, ele não sabia da tradição.

O Príncipe me analisou sem entender o porquê da vestimenta, mas não fez pergunta alguma.

Ao andar pelas ruelas, encontramos vários dos meninos, muitos deles vieram até nós e nos cumprimentaram alegremente, outros apenas acenaram de longe, eles pareciam satisfeitos em nos ver.

Percebi que, ao observar os moradores da cidade, William havia descoberto o porquê das sementes e, assim como eles, começou a entregá-las a cada moça que passava por nós, até as senhoras foram agraciadas pelos presentes do Príncipe.

— Só dão um para cada? — William me perguntou levantando o saquinho já quase vazio.

— Normalmente não precisa de mais do que isso. — respondi divertindo-me.

— Acho que não levo muito jeito pra isso, gastei quase tudo. — Olhou para as poucas sementes restantes.

William certamente não entendeu o propósito da dinâmica, tanto que ofereceu sementes até a garotos que passaram por nós e obviamente o olharam com reprovação. Eu poderia simplesmente lhe explicar, mas chegava a ser divertido vê-lo cometer gafes. Logo ele havia se livrado de todas as sementes sem esforço algum.

— Tatiana, vamos pra lá... — William apontou para uma área com sombra. Nós não precisávamos andar juntos, mas a julgar pelos mínimos conhecimentos que ele tinha, era melhor ficar por perto e evitar confusão.

O chão já estava repleto de sujeira, após horas de festividade, era natural que toda a bagunça começasse a aparecer, várias sementes estavam espalhadas por todo o canto. Agora parada somente os observando, era nítida a diferença em relação à última vez, eles não pareciam tão alegres quanto antes, mesmo que a bebida ajudasse a mantê-los levemente altos, eles tinham um quê de apreensão, como se não conseguissem relaxar por completo.

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⏰ Última atualização: Jan 05, 2020 ⏰

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Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora