19.

17 2 13
                                    



É divertido o momento em que nós temos consciência de que não estamos mais dormindo. É claro que só acho engraçado depois, na hora, o primeiro pensamento que geralmente aparece é "Não acredito que acordei justo agora!".

Nunca reclamei por ter que acordar cedo, eu até gostava, boa parte dos empregados acordava antes mesmo do sol nascer, só que minutinhos a mais eram bem vindos.

Eu não me irritava em acordar no meio da madrugada, era até legal, sentia-me feliz por ter mais horas de sono, mas acordar minutos antes do horário certo, era bem chato, a preocupação de voltar a dormir e nunca mais acordar ficava martelando na cabeça e sempre me impedia de aproveitar os segundinhos finais de paz.

Apesar de gostar de dormir, eu também adorava trabalhar. Ser um dos empregados do famoso Castelo de Pedra era uma grande honra e poderia ser muito divertido se você soubesse aproveitar o máximo das inúmeras áreas e companhias que ele oferecia.

Desde moleque, eu sempre fui comunicativo, nos meus piores dias beirava o insuportável. Ia de um canto a outro, sempre conversando e fazendo perguntas: por quê? Por que não? Posso encostar nisso? Já está na hora do almoço? E no jantar vai ter o quê?

Para minha sorte, eu era educado e perguntava antes de fazer, além disso, a maioria dos funcionários gostava de mim e das crianças em geral, estavam dispostos a trabalhar e responder minhas indagações ilimitadas ao mesmo tempo, mesmo que só soubessem dizer "Não sei, Lipe.".

Minha infância havia sido muito feliz e não seria capaz de imaginar nada melhor se minha vida tivesse tomado outros rumos. Constantemente me diziam que eu havia me tornado um exemplo de jovem a ser seguido, eu não sabia se queria essa responsabilidade, no entanto, não conseguia deixar de me sentir feliz pelos elogios.

Tinha a noção que muitos deles vinham por conta da minha proximidade com todos e da forma carinhosa a qual eu tratava a maioria, desde a infância, até os dias de hoje.

Apesar de sempre estar os rodeando e fazendo gracinhas, o tempo estava curto e eu tinha que ser o mais eficiente possível. Assim que me troquei, fui até a cozinha e comecei a caçar algumas guloseimas que seriam servidas no café da manhã dos nobres.

Algumas damas me olharam com cara feia, mas sabia que elas não viam problema, desde que eu não abusasse. Era muita comida e tinha certeza que quando sobrasse, teria a licença para comê-las, então que diferença fazia comer antes?

Enquanto comia, vendo-as trabalhar, meu coração se aquecia, era bom ver todas satisfeitas por saberem que seus esforços valiam a pena. Não era raro ouvir dizer que os nobres elogiavam as deliciosas comidas preparadas por elas.

Ah! Como os dias estavam sendo empolgantes! Desde a chegada dos visitantes, tudo à minha volta parecia mais agitado. O trabalho havia aumentado também, mas era algo bom.

Nem me lembro mais do dia em que comecei a trabalhar no castelo, foi algo natural, como eu era muito agitado, os funcionários me distraiam pedindo alguns favores.

Eu mandava recados e suas respostas em troca de guloseimas, que fique claro, ninguém poderia saber, já que era comida dos nobres; carregava cestos de roupas sujas, já que a coluna da Luciana doía, ela era muito boazinha e não custava nada ajudar; ficava de olho nos animais enquanto o responsável por eles não podia, e várias outras atividades.

Com o passar do tempo, os favores começaram a ser rotina e Tobias achou melhor eu me distanciar um pouco do trabalho, na época eu não tinha entendido, mas hoje percebo que ele faz o mesmo com os meninos. Ele queria me dar um pouco de infância, o pouco pelo menos que era possível, mas não demorou muito para eu estar de volta.

Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora