29.

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— Posso entrar? — estiquei a cabeça para dentro do ambiente.

— Claro! — Lúcia olhou-me rapidamente antes de voltar a atenção para a boneca em suas mãos.

— O que está fazendo? — Andei por todo quarto até ficar bem próxima dela.

— Cuidando do cabelo...

— Ele parece bom pra mim.

— É porque eu já estou quase acabando — sorriu satisfeita.

— Hummm... — Outras bonecas estavam em cima da cama, enfileiradas, com os cabelos já arrumados, peguei uma delas e sacudi em sua direção. — Qual o nome dessa daqui?

— Rosa. — bem sugestivo, os sapatinhos e vestido eram da cor que lhe dava o nome.

— Terminei. — Esticou os braços para ter uma visão ampla do trabalho. — Me ajuda?

— Claro... o que devo fazer?

— Só ir me entregando... — Apontou o dedo para os brinquedos. — Na ordem que estão.

— Está bem. — Luci subiu na cadeira e colocou-as, uma a uma, na prateleira em cima da penteadeira.

Percebi que não a via brincando com as bonecas como antes, na verdade, era a primeira vez, em muito tempo, que vi os brinquedos em um lugar diferente da prateleira, talvez Lúcia estivesse perdendo o interesse e só tocava nelas quando o intuito era apenas mantê-las limpas e com aspecto agradável.

— Vamos lá fora um pouquinho? — Pulou do móvel e abanou o vestido — Estou com calor.

Apenas assenti, suas bochechas estavam realmente coradas, passamos pela porta da sacada de seu quarto e deixamos a brisa de final de tarde nos refrescar. Enquanto ela olhava para o jardim lá em baixo, eu a observava, não sabia desde quando, mas estava mais alta, talvez fosse a distância, eu estava trabalhando bem mais e não tinha tanto tempo para reparar nela.

— Will! Ei, aqui! — Lúcia foi para mais perto do parapeito e balançou uma das mãos freneticamente a fim de que William nos avistasse.

— Quieta, Lúcia. — A repreendi tarde demais, Felipe vasculhou a área com olhos apertados até que, infelizmente, nos viu e apontou em nossa direção com o sorriso alegre de sempre.

— Oh, não! — clamou Pedro, que estava junto deles. — Venham, rapazes! — insistiu com gestos. — A princesa está em perigo? — perguntou a Lúcia. Ele tinha gestos e tom de voz extremamente teatrais.

— Sim! — o imenso sorriso denotava sua total euforia. Eu assistia a cena como se fosse uma mera figurinista.

— Quem poderá salvá-la? Oh! — Felipe tinha expressão de angústia e mantinha uma das mãos no peito.

— Não seja idiota, eu é claro! — Pedro se aproximou da sacada e ajoelhou-se.

— Saia já da frente, seu bocó. — Quem em sã consciência usava essa palavra? Felipe empurrou o jovem sem a menor cerimônia, fazendo com que ele caísse no chão, todos rimos.

— Não se preocupe, Princesa, eu estou bem. — Levantou-se, limpando a roupa e lançou um olhar de desagrado para o agressor. — Nada se compara a dor de vê-la tão tristonha, oh!

William permanecia atrás dos dois atores, pelo meu breve conhecimento, supus que fosse a árvore, ele estava com braços cruzados e pernas levemente abertas, olhava para ambos como se fosse anos mais velho.

Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora