16.

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Tatiana saiu do ambiente e deixou o silêncio pairando no ar. Eu sabia que não seria fácil conquistar a confiança deles, mas esperava que pudesse, pelo menos, ter a chance de mostrar quem eu era, e quem sabe, ganhar a simpatia deles.

— Bem... Como vocês já sabem... Meu nome é William... Mas...

— É pra te chamar de Will, todo mundo já sabe isso.

O mais velho me interrompeu sem muita paciência, só pensei que, por eles serem treinados pela princesa, também fossem me chamar de William e era algo que me desagradava. Não queria que o tom formal fosse uma constante aqui no castelo, ainda mais quando vinha dos mais novos. 

— Humm... — Eu olhava ao redor como se alguma ideia pudesse estar escondida debaixo da mesa, entre as espadas ou até no teto, mas nada apareceu. — Bem... O que vocês costumam fazer?

— Ah! Eu não sei, talvez treinar?

Parecia loucura me sentir intimidado por um garoto, mas seu tom irônico e as risadas dos demais me deixaram desconfortável.

— Está bem, mostrem-me o que Tatiana ensinou a vocês. — Ajeitei a postura e adquiri uma voz mais firme, mesmo que sua rebeldia fosse compreensível, eu não deixaria que me destratasse tão obviamente.

Um dos rapazes, que parecia ter uns quatorze anos, foi até as espadas e entregou uma para o menino atrevido e outra para mim. Na verdade, eu queria vê-los treinando entre si, mas gostei de ver que confiavam no treinamento de Tatiana e me desafiavam, de certo modo.

Por uns instantes fiz movimentos com o objeto apenas para conhecê-lo melhor e acostumar com seu peso, já que era feito de madeira, quando o garoto percebeu que eu estava pronto, começou a desferir golpes aqui e ali.

A princípio, ele estava bem cuidadoso, e eu também, Tatiana ser sua ex treinadora, dizia muito sobre que tipo de guerreiro ele seria. Quando começamos a aumentar a velocidade e agressividade, percebi que, apesar de toda marra, ele ainda era muito jovem e tinha muito a aprender.

— Joelhos! Direita! Joelhos! — Enquanto íamos lutando, eu lhe dava ordens para se atentar a pequenos detalhes. — Mais rápido. — O mais novo ia acatando minhas ordens e melhorava seu desempenho imediatamente. — Mais rápido! Bom! — Ele parecia dar o melhor que podia e eu gostava de ver toda essa força de vontade. — Mais...

— Chega!

O rapaz estava curvado e arfava pesadamente, largou a espada no chão e apoiou as mãos nos joelhos. Em contraste com o garoto, eu estava apenas um pouco ofegante, mas a comparação não era justa, já que eu tinha bem mais experiência. Todos em volta nos olhavam e não consegui identificar o que os olhares significavam, mas senti que, uma primeira barreira que nos separava, havia se partido.

— Impressionante! Mesmo... — Eu estava de fato impressionado com as habilidades do rapaz diante de mim, não havia motivo para mentir ou puxar o saco dele, talvez com sua idade eu não tivesse tanta desenvoltura. — Tatiana realizou um excelente trabalho.

A cada momento me sentia mais pressionado, não poderia deixar que o rendimento deles caísse, e questionava se seria capaz de alcançar, ou até mesmo, superar os ensinamentos de Tatiana.

Apesar disso, uma certeza eu tinha: àqueles que ridicularizavam a ala de treinamento, não tinham noção da dimensão que ela já tinha hoje em dia, do quão incríveis esse garotos possivelmente eram e no quão importantes e poderosos eles seriam no futuro.

Se eles soubesse minimamente o que a princesa estava fazendo debaixo dos seus narizes, eles a olhariam com respeito e devoção, assim como não menosprezariam os meninos. Me sentia extremamente honrado de poder fazer parte disso, mesmo que por pouco tempo.

Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora