Amor Fati

25.

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O Sol não aparecia há quatro dias, a chuva não cessava nem por um instante, ia de um intenso temporal, acompanhado por fortes rajadas de vento, à uma garoa calma e enfadonha que, mesmo fraca, era empecilho para realização das mais simples tarefas rotineiras. Durante à noite, causava medo nos visitantes, principalmente nas crianças, as grandes gotas de chuva chocavam-se contra os vidros das janelas e estas se debatiam por conta da força do vendaval.

Para os moradores do castelo, já acostumados, tudo não passava de uma chuva inofensiva, que inclusive ajudava a distrair durante o trabalho e pegar no sono na hora de ir dormir. Eles tinham paciência para saber esperar até o último dia de chuva, aproveitavam para contar histórias e fazer brincadeiras diversas, já que o trabalho era relativamente minimizado, uma vez que, os nobres tinham pouco ânimo para sair de seus aposentos e socializar.

Durante todos os dias, Will levantou cedo e foi até o salão de treinamento para praticar com os meninos, ele mesmo havia feito uma rápida consulta com os funcionários para saber se seria possível que seus pupilos chegassem com segurança ao castelo. O príncipe prezava pelo bem dos meninos e não queria que se arriscassem a andar com chuva forte. Após ter a confirmação que, nas manhãs a chuva não passava de um leve incômodo, e que eles poderiam chegar sãos e salvos, seguiu com a rotina normalmente.

Os garotos até se surpreenderam com a vontade do príncipe em dar aulas, para eles, Will não duraria um dia no comando da ala de treinamento, no entanto, estava prestes a completar uma semana. Era uma experiência nova para todos, os garotos estavam habituados com a antiga professora e já tinham o próprio jeito de treinar.

O nobre do norte trouxe frescor, sim, ele possuía uma energia jovial e luminosa, destoante do jeito mais sério da princesa, além disso, algumas de suas técnicas eram diferentes das usadas por Tatiana, nada fora do normal, afinal, era de se esperar peculiaridades de cada nobre visitante e num treino não seria diferente.

"Tatiana nunca nos disse isso" ou "Pra que nos ensinar isso se não estamos no Norte?" eram constantes em todas as manhãs, os meninos mostravam certa relutância, mesmo sabendo que nada poderia ser feito a respeito, Will era um jovem paciente e sempre lhes respondia com educação, o que ajudava no bom relacionamento deles, devolver com provocações não resolveria em nada. "A vida é imprevisível, hoje vocês estão treinando, amanhã podem estar numa batalha, no Norte, por exemplo" ele dizia.

Era total verdade, num piscar de olhos, uma guerra poderia surgir, era importantíssimo que eles aprendessem, pelo menos um pouco, como era uma batalha em cada lugar, e não havia oportunidade melhor para aprender sobre o Norte, senão com um príncipe da região e futuro rei.

Ao contrário de alguns, Will gostava da chuva, ela deixava o clima mais ameno, fazendo com que dormisse melhor e acordasse mais disposto a dar suas aulas. Agora andando pelo vasto corredor, conseguia ouvir o tilintar das gotas, parecia música para seus ouvidos.

— Bom dia. — Um de seus alunos o cumprimentou com educação e um tanto seco.

— Bom dia, Lucas. — Will começava a decorar o nome dos rapazes e Lucas fora um dos primeiros, depois de Heitor e João, que foram previamente apresentados pela princesa.

O garoto era poucos centímetros mais baixo que o príncipe, praticamente da altura de Tatiana, tinha boa aparência, do tipo que encantava as donzelas, além disso, era um dos mais velhos, e tinha muito influência sobre o restante dos meninos. Ele havia mostrado muita resistência nos dois primeiros dias, e fora o primeiro a externar o desagrado diante das novidades, mas logo percebeu que birras não o levariam a lugar algum e se lembrou das palavras da princesa, ele jamais iria desonrar seus ensinamentos.