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Apesar de gostar de caminhar só pelas ruelas da cidade, eu havia prometido a Triunfo que passearíamos hoje, não ficaria sozinha de fato, estaria em boa companhia. 

Assim que saí do quarto de minha irmã, fui até o meu para que pudesse colocar um colete de couro por cima de minha blusa branca. Enquanto abotoava a peça de roupa em frente o espelho, pude perceber que minha respiração já estava mais próxima do que julgava ser normal. Agora sozinha, me dei conta de que talvez eu tivesse exagerado em minhas atitudes. Não havia motivo concreto para que eu fosse tão rude com Lúcia, mais tarde eu falaria com ela, mas por enquanto, eu ainda queria sair do castelo. 

Após dar uma última olhada no espelho, supus estar com uma aparência agradável, com isso, comecei a  repassar mentalmente o que era preciso para passar a tarde fora do castelo, pois o plano era ficar o máximo de tempo possível e longe das visitas de Hugo.

Havia apenas uma única coisa que eu precisava providenciar: alimento. 

Já na cozinha, peguei minha bolça, também de couro, e iniciei a procura por algo que fosse prático e leve. Tentei fazer tudo o mais rápido e discretamente possível, pois o cômodo estava repleto de funcionários e eu não queria os atrapalhar.

Fiquei feliz ao perceber que os pães que Lia separara para mim ainda não haviam acabado. Peguei dois deles e os enrolei com o próprio pano que os cobria. Em cima da mesa havia uma cesta com frutas e, pensando no bem estar de Triunfo, levaria algo para ele também, considerei que duas maçãs fosse o suficiente. Para finalizar, enchi meu cantil com água e saí dando um leve aceno com a cabeça para uma das meninas que me encarava fixamente.

Enquanto caminhava até o estábulo pela segunda vez no dia, me deparei com alguns nobres e, ao que tudo indicava, estavam dispostos a conhecer mais o castelo, o que me irritava um pouco. Era como se estivessem invadindo minha privacidade, não fazia o menor sentido, uma vez que, para eles, corredores eram apenas corredores, paredes eram apenas paredes. Nenhum deles conseguiria ver além disso. Nenhum deles seria capaz de ver as memórias e histórias que cada pedaço de minha casa guardava, mesmo assim, essa situação era incômoda.

Além de ficarem perambulando por aí, gostavam de conversar e dar altas gargalhadas, eu perdi meu bem mais precioso. O caso é que eu não tinha o que fazer além de aprender a lidar com essa situação, sabia que não poderia deixar que esse incômodo fosse maior do que realmente era.

Sim, eu detestava tudo isso, mas meus sentimentos estavam mais exaltados, principalmente por se tratar dos primeiros dias, mas eu devia ser mais racional e encarar essa condição de forma realista, sem exageros, embora eu até gostasse de mostrar, de forma sutil, meu descontentamento, o que, com toda certeza, desagradaria Hugo caso se desse conta desse fato.

Já estava decidido, procrastinação não faria mais parte dos meus dias, sendo assim, tratei de fazer a melhor cara que pude e continuei o percurso de forma calma, o que não pareceu funcionar muito bem, alguns nobres fecharam levemente as expressões quando me viram.

De toda forma, não era culpa minha, estava fazendo o que julgava ser o meu melhor.

Já em frente ao estábulo me deparo com Triunfo pronto para ser montado, uma cena curiosa, para não dizer estranha.

— Alguém andou dando umas voltinhas sem mim? — Perguntei ao animal fazendo carinho em sua crina.

— Finalmente chegou, ele estava quase indo te buscar.

Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora