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Com o fim dos dias chuvosos, Paulo finalmente pôde ser apresentado ao pelotão e dar início às suas atividades. Não sabia o porquê disso ser tão interessante ao olhos de Hugo, deixar um desconhecido no comando de seus homens não era nem um pouco viável, além de atrapalhar o rendimento deles, deixava nossas defesas muito frágeis, ainda que Paulo fosse de terras vizinhas e possuísse técnicas parecidas com as nossas, o mesmo não poderia ser dito sobre o nobre de vestes pretas, eu só sabia que vinha de longe e que não era dado a conversas, mas apenas isso, quanto menos eu sabia de um homem, mais desconfiança tinha.
Aparentemente, Hugo ainda não sabia sobre meu novo cargo, e se tinha conhecimento, nada fez para me impedir ou dificultar. Eu já estava atuando como auxiliar de Paulo há dois dias e tudo parecia estar sob controle, já era de se esperar, treinar homens era fácil, você manda, eles obedecem, pronto. Ainda sim, achava que Paulo precisava ter mais pulso firme para durar no cargo.
Com a nova rotina, percebi que mal veria Lúcia, mesmo com o pouco tempo, já sentia falta de seus intermináveis questionamentos, de sua risada divertida e até de suas provocações. Aproveitando os pouquíssimos minutos que eu tinha, resolvi procurá-la, eu só precisava vê-la, ainda que não conversássemos, para mim, era muito importante assegurar que tudo estava bem. Estranhamente, a pequena não estava na companhia de Lia, a jovem senhora, de olhos cor de mel, estava ocupada arrumando e limpando os aposentos da princesa e sugeriu que eu fosse procurá-la lá fora, já que não tinha a visto dentro do castelo.
E assim eu fiz, a tarde estava quente, mas o sol já não estava no seu auge, pensei até que a loirinha tivesse aproveitado para fazer o tão esperado piquenique com as meninas, mas vi o trio sentado em um dos diversos bancos do jardim, conversando despreocupadamente. Meu tempo já estava quase no fim e não sabia mais onde procurá-la, até que encontrei uma possível fonte de informação.
O rapaz de olhos claros possuía uma expressão rara, seu cenho estava visivelmente franzido, era estranho ver seus lábios, tão acostumados a estampar os mais contagiantes sorrisos, serem agora, uma fina linha em seu rosto, além disso, ele mantinha os punhos fechados. Entretanto, sabia que não estava com raiva, algo de diferente havia mexido com ele. Diante dele, havia um dos nobres visitantes, ao contrário do mais alto, ele parecia apreciar a situação e o devorava com os olhos.
— Felipe. — Chamei-o e no mesmo instante, o jovem se afastou bruscamente, ainda sim, nenhuma resposta veio, de nenhum dos dois. Eu os observava e nada. — Está tudo bem?
— Certamente. — Seu olhar parecia hesitante, passeou pelo gramado até encontrar o meu.
— Olá, Princesa Tatiana! — O rapaz possuía algo misterioso no tom de voz e certa alegria, que me incomodava, como se quisesse conquistar a intimidade que eu não estava disposta a oferecer. — Como vai?
— Estou bem, Pedro, e você? — A pressa e falta de interesse não eram desculpas para ser mal educada.
— Ah, Princesa... Sabe... Muito, muito bem... — Ele começou a andar para trás, se afastando de Felipe calmamente, agora tinha o jeito sedutor de agir e falar. — Hoje pude sentir...
— Deseja alguma coisa, Tatiana?
Felipe o interrompeu bruscamente, aparentemente ele não tinha a mesma preocupação em ser educado. Eu quase podia sentir o incômodo em sua voz, seus músculos estavam rígidos. Não havia nenhum sinal do Felipe extrovertido conhecido por todos. E eu sabia o porquê, agora já tinha percebido.
— Sim, estou procurando por Lúcia...
— Eu a vi há pouco, está com Catarina e Bernardo. Quer que eu a leve até eles?
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Amor Fati
FantasyTatiana é uma princesa que aprecia o silêncio e quietude, mas se vê numa situação incômoda: diversos nobres ficarão hospedados em seu castelo para a famosa Conferência a fim de estreitarem laços gastos pelo tempo, mas o que parecia ser uma reunião a...