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— Não aguento mais, eu vou desmaiar! — Pela quinta vez, o menino choramingou, era engraçado vê-lo, apesar de sua coluna estar levemente curvada, os braços pendendo, como se suas mãos fossem tocar o chão e o olhar demonstrar abatimento, eu sabia que tudo não passava de teatro. — Will, não tem graça!

Nem percebi que ri do menino.

— Não seja dramático, Edu! Mal começamos! — Lucas o repreendeu antes mesmo que eu pudesse fazer.

— É fácil falar né? Olhe o tamanho de suas pernas, são gigantes! — A essa altura, todos estavam cientes do drama, os mais novos observavam com atenção, também era do interesse deles fazer uma pausa, os mais velhos achavam graça. — Will, sério, não podemos parar um pouquinho?

— Lucas tem razão, estamos andando há pouco tempo...

— De hoje! — Seus olhos se arregalaram de forma a desencadear risadas. — E o tanto que andamos ontem? — Quanto mais irritados, mais engraçados eles ficavam. Não estava bancando o professor maldoso, de fato estávamos cumprindo a missão de forma tranquila, sem a menor pressa. Os mais velhos pareciam lidar muito bem com as caminhadas, os mais novos reclamavam de cinco em cinco minutos.

— Engraçado que quando é pra correr feito doido enquanto nós treinamos você não fica cansado né? — O garoto riu sem o menor resquício de vergonha. — Seu pirralho sem vergonha na cara!

Apesar de ter fala agressiva, Lucas se abaixou para que Edu subisse em seus ombros, "de cavalinho" ouvi o mais novo dizer, como se já fosse um costume dos dois.

— Will, você não quer ajudar esse pobre coitado também? — Dois grandes olhos castanhos me encaravam.

— Você parece tão bem, Nico! — Parei diante dele analisando sua postura quase altiva.

— Ai na verdade... — Instantaneamente o menino fez expressão de dor, totalmente falsa.

— Seu fingido! — Coloquei-o montado no único cavalo que havíamos trazido. — Mais alguém? — Olhei em volta, mas o restante dos meninos deu de ombros e continuou caminhando sem interromper as conversas.

Eu não sabia o porquê de Tatiana nunca ter feito algo parecido com os meninos, talvez simplesmente não tivesse tido a ideia ou oportunidade, talvez não fosse algo bom aos olhos de Hugo, mas percebi que ela havia ficado satisfeita com a minha iniciativa e isso me deixou mais tranquilo.

Eu queria ter trago apenas os mais velhos, seria mais seguro, mas resolvi confiar no treinamento de Tatiana, no meu e, principalmente, nos meninos, de fato eles eram bem pequenininhos e não tinham noção de muitas coisas, mas não deixavam de ser obedientes, pareciam um tanto quanto teimosos, mas no fundo sempre se comportavam.

Era uma boa oportunidade para treinar os mais velhos também, com os mais novos por perto, eles iriam desenvolver mais ainda o senso de responsabilidade e cuidado com a equipe, mesmo que eu estivesse presente, eles sempre cuidavam uns dos outros como irmãos e lidar com situações atípicas seria desafiador para eles e mais ainda para mim.

Mesmo que a nossa breve viagem não representasse nenhum perigo, os garotos se sentiam como exploradores numa verdadeira aventura, os mais sabidos iam me explicando coisas aqui e ali, e eu me sentia grato por poder ensinar e aprender. A troca era de fato muito prazerosa.

— Will...

— Sim? — Permaneci segurando a rédea mesmo que Nicolas estivesse montado no cavalo.

Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora