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— O que deseja, Princesa?

Tobias nem precisava desviar o olhar do trabalho para saber quem havia chegado, não importava o quanto a pessoa tentasse ser silenciosa, ele sempre saberia. Ele arrumava metodicamente os temperos em uma ordem muito rígida, não consegui distinguir o critérios utilizados.

— Dei muito trabalho para vocês ontem? — Encostei no batente da porta.

— De forma alguma. — Dessa vez, ao me responder, me olhou rapidamente. — Devido a urgência, arrumamos primeiro o quarto do Príncipe William, ontem mesmo, e hoje bem cedo, do restante das visitas.

Túlio já havia me dito que os visitantes, especialmente os do Norte, estavam muito incomodados com o calor e que alguns deles tinham dificuldade para dormir, até a última madrugada, eu achava que era puramente questão de costume, mas após Príncipe William passar mal, percebi que providências deveriam ser tomadas.

Por isso, pedi para que Tobias trocasse as roupas de cama de todos os nobres do Norte, de William com urgência, para que ele já pudesse dormir melhor naquela mesma madrugada, e do restante quando ele achasse melhor.

Era verdade que ele havia escolhido os mais belos e trabalhados lençóis, cobertores e fronhas, mas sabia que, assim como eu, Tobias prezava pelo bem estar de todos mais do que pela aparência.

Certamente os visitantes optariam por uma boa noite de sono ao invés de bordados a mais em lençóis quentes e pesados. De fato, para nós, não havia nada de errado, mas não conseguíamos imaginar o quão gigantes eram as diferenças entre nossas realidades.

— Muito bom, obrigada... A chuva também vai nos ajudar um pouco... — Estávamos a esperando por tanto tempo, os ventos frescos que ela trazia já eram um acalento.

— Com toda certeza, Princesa...

— Hummm... — Desencostei da madeira envelhecida e comecei a andar olhando ao redor como se os mantimentos fossem extremamente interessantes. — Tem notícias de Hugo?

— Notícias? Creio que não. — Ele separou alguns potinhos e os colocou num caixote. — O de sempre. — Passou por mim com os selecionados em mãos. — Dentro de sua sala. Sai apenas para refeições. Vai para seus aposentos.

— Hummm. Entendi. — Como se ainda fosse criança, comecei a segui-lo. — Sabe onde posso encontrar Isaque?

— Algum problema? — Percebi seu cenho se franzindo levemente.

Devido a proximidade com Hugo, Isaque se sentia maior e, mesmo que meu tio demonstrasse abertamente certa repulsa, de certa forma o acobertava, no entanto, ele continuava sendo um funcionário do castelo, contudo, menos controlável.

Mesmo assim, Tobias se sentia responsável, já que ele era uma falha na equipe. Todos sabíamos que as ações de Isaque não eram reflexo das ordens de Tobias, ele era uma espécie única de empregado, daquele tipo com o rei na barriga.

— Nada que eu não possa resolver. — De fato esse era assunto meu e somente eu o resolveria.

— Possivelmente está na torre leste.

— Obrigada, Tobias.

— A seu dispor, Princesa.

Após trocarmos saudações, saí da dispensa e fui em direção à Torre Mestra do Leste. Logicamente não havia apenas uma torre em cada ponto cardeal do castelo, mas em cada um deles, havia a torre principal, nelas ficavam as salas mais importante e apesar de Isaque ser irrelevante, ganhou uma sala próxima a do meu tio.

Amor FatiOnde histórias criam vida. Descubra agora