[4] O garoto

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Meu rosto? Inchado. Assim que abro os olhos sinto uma enorme dor de cabeça. Fui humilhada, trocada e agora estou chorando igual a um bebê. Vou até o banheiro, lavo meu rosto de um jeito delicado para que minhas olheiras e cara de choro sumam, o que obviamente não acontece.

Eu não quero ir a escola hoje. Sei que as meninas vão caçoar muito mais se eu não for, ou seja, eu tenho que ir. Vou colocar uma roupa tão incrível, fazer uma maquiagem de dar inveja e ir toda linda, para aquelas jararacas verem que nada vai me fazer sair dos populares!

Espera aí! Que roupa? Droga, eu não trouxe nada! Mas... Pensando bem... eu tenho quase certeza que havia deixado algumas no armário junto com meus livros da última vez que fugi de casa, para emergências. Que maravilha eu sou genial.

Quando vejo as obras que tinham no armário dou um pequeno sorriso, gostava muito de ler entre meus nove e quinze anos, meus pais se gabavam muito disso para os outros. Só que um dia eu simplesmente parei, havia perdido a graça nas histórias, não sentia mais aquela adrenalina e felicidade que só um livro era capaz de preencher, estava ocupada demais me entristecendo com os comentários de mamãe e a falta de amor na minha vida. Por fim resolvo pegar um que era meu favorito naquela idade, cheio de hormônios e diversão, "Quem é você Alasca?", um bom conteúdo, por mais que nunca saberia verdadeiramente interpretá-lo. Colocá-lo em minha mochila pareceu uma boa ideia naquele momento, me distrairia das pessoas cochichando sobre mim a aula toda.

Escolho uma roupa antiga que por sorte ainda servia, faço uma maquiagem que encontrei pela internet e arrumo meu cabelo o mais perfeito possível. Se não fosse pela roupa um tanto quanto peculiar diria que estava no mínimo satisfatório, mas essa palavra não é adequada a situação, muito menos para mim. Meu rosto sempre teve seu formato estranho e de acordo com a cirurgiã da tia Adeline uma plástica aqui, outra ali e tudo estaria resolvido.

Resolvo ir andando, para colocar os pensamentos em ordem e também não sofrer um acidente no caminho, sei que não transmito muita segurança no banco do motorista. Ouço uma música nos meus fones de ouvido, "You Don't Know". Mesmo eu estando aceitável de acordo com as regras da escola, não me sinto assim, não acho que consigo entrar por aquela porta com todos os olhares para mim, com piadinhas e aquelas risadas que fazem o cérebro se corroer por dentro, mas sei que uma hora ou outra tenho que encarar isso, caso contrário me consumirá e eles terão mais motivos para me irritarem.

Meus pensamentos são interrompidos quando um carro literalmente me ATROPELA! Quer dizer, quase. Por sorte o veículo para a tempo e só encosta em mim levemente, causando apenas alguns arranhões, nada muito grave.

- Moça você está bem?

Um rapaz que, surpreendentemente, me desperta certa curiosidade já que boa parte de seu rosto não se encontrava exposta, sai do carro e caminha depressa até mim me ajudando a levantar. Quando percebo o que realmente aconteceu, passando meu grande choque, peço desculpas a ele:

- Me desculpe, não prestei muita atenção...

- Deve se desculpar mesmo! Você vai me causar um problemão senhora!

- Quem me atropelou foi você idiota! E senhora é sua avó! -Digo irritada, como se já não me bastasse os problemas escolares esse homem abusado ousa me culpar pelo que aconteceu? Eu não sou besta, provavelmente vai pedir dinheiro para "concertar" o carro!

E fala sério, nem pareço tão velha assim! Não sou cheia de rugas a esse ponto, isso é simplesmente ridículo! Mas... Espera um pouco, posso tirar um bom proveito disso hehehe.

- Mas quem não olhou a rua foi você!

- Tem razão - Ele arregala os olhos incrédulo -Mas...

O garoto misterioso revirou os olhos e me olhou como se já soubesse o que eu iria pedir:

Em Busca De AnneOnde histórias criam vida. Descubra agora