23 • Lobo mal.

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— O que está fazendo?

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O que está fazendo?

Aquela cena soava familiar, o modo como Rico retirava a roupa, os gestos desesperados e sem pudor, a raiva explícita em cada movimento... Tudo aquilo lhe lembrava alguém. Kênia espremeu os olhos numa tentava falha de dispersar vagas lembranças dolorosas, aquilo lhe assombrava, lhe mantinha presa ao passado.

Até quando viveria assombrada por demônios?

— Você está bem? — ouviu a voz de Rico, soando preocupado. Permaneceu de olhos fechados, respirando pesadamente. — Kênia?

— Não se aproxime! — gritou num ato desesperado. Abriu os olhos, encontrado a confusão no olhar acinzentado. Focou o olhar na cicatriz em sua bochecha, novamente se questionando sobre ela.

— O que houve? — indagou, imóvel. Rico estava apenas com a calça, o terno e a camisa branca jogados na cama, a gravata no chão. O abdômen rígido, magro e sem gominhos. Não era um homem malhado ou de músculos exagerados, ainda assim, possuía um corpo de dar água na boca.

Quando ele a deixou para trás, ainda era novo, um jovem ambicioso e inconsequente. Continuava o mesmo, apenas o corpo mudou com os anos.

— Nada. — murmurou, percebendo que não tinha motivos para tal medo. — Só... hm... Por que está tirando a roupa?

Arqueou um lado das sobrancelhas, como se a resposta fosse óbvia. Não era.

— Vou tomar banho? — perguntou retoricamente. — Estou cheirando a prostituta.

Ela riu, sem humor.

Fedendo. — corrigiu, recebendo um olhar indiferente. — Sabia que é feio ficar dormindo com putas enquanto sua noiva estava em coma? Corrigindo, dopada.

Rico sustentava um riso sarcástico nos lábios, estava claramente divertindo-se com as alfinetadas de Kênia. Nem podia acreditar que sentiu um pouquinho de falta de discutir com ela durante o dia. Talvez tivesse se acostumando com sua presença, afinal.

— Minha noiva? Parece que está bem familiarizada com esse termo. — comentou. — Vejo que ficar desacordada algumas semanas te deu juízo.

A mulher estreitou mais os olhos, separando os lábios.

— Algumas semanas? Como assim, Borelli? — o questionou, semicerrando os olhos. A raiva fluiu naturalmente em suas veias. — Está dizendo que me deixou dias dopada?

Rico segurava o riso, deu de ombros e afastou-se da cama antes que fosse pego pela fúria devastadora de Kênia.

— Posso ter exagerado um pouco nas doses... Mas nada que possa ter afetado tua mente, ou te deixado mais doida do que já é. — disse, ainda segurando o riso.

Kênia levantou da cama em um sobressalto, forçando-se a ficar de pé. Uma forte tontura lhe acertou, causando ondas fortes de enjoo, como se um redemoinho gravitacional ocorresse em seu interior. Fechou os olhos e respirou profundamente.

O Grande Rico Borelli. - I Onde histórias criam vida. Descubra agora