35 • O mundo dá voltas.

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O tapa que levou em seguida não foi tão dolorido quanto a decepção estampada em seu rosto

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O tapa que levou em seguida não foi tão dolorido quanto a decepção estampada em seu rosto. Ofegantes os dois se encararam, pela primeira vez desde que conhecerá Kai, Kênia o viu como um monstro. Ele nunca havia ousado tocar nela, não daquela forma. A cada movimento dele ela tinha mais certeza de que foi manipulada e enganada. A imagem perfeita que tinha dele estava em cinzas.

— Lembre-se sempre que fui eu quem te tirou daquele inferno de reformatório. Se não fosse por mim ainda estaria na miséria. — declarou, arrogante. — Não seja mal agradecida!

Uma lágrima brotou em seu olho direito, e ela deu tudo de si para não deixá-la cair. Não queria soar mais fraca ou impotente.

— Nunca mais toque em mim. — rangeu entre dentes. Kai semicerrou os olhos para analisá-la melhor, os lábios formaram um sorriso ladino.

— Por que me odeia por um simples ato que cometi, e ama ele mesmo depois de ter te tirado tudo? — indagou, mais pra si do que pra Kênia. — Não importa o quanto ele te machuque, você sempre voltará pra ele. Eu já devia ter previsto isso.

— Não se trata de mim e dele! Mas sim de mim e de você, do que construímos juntos, da confiança...

Kai riu.

— Do que construímos juntos? — repetiu com o tom zombeteiro. — E o que construímos juntos, Kênia? Olhe ao redor! Não temos nada. Nós dois sempre fomos como um castelo de areia na beira de uma praia, qualquer onda pode derrubar.

— Estou tão cansada, Kai. Exausta emocionalmente. — sussurrou com os olhos marejados. Kênia encarou os próprios pés. — Se naquela noite eu soubesse que se ficasse viva iria pagar um preço tão alto, não teria insistido à sobreviver.

— Não fale besteira! Já faz dez anos! Componha-se e coloque a cabeça no lugar. — repreendeu, frio. Kai passou as mãos pelos cabelos. — Eu vou pôr um fim nisso.

Um nó se formou em sua garganta, pois apesar de decepcionada, ela ainda possuía sentimentos fortes por ele e não queria arrastá-lo para uma guerra da qual não venceria. Kênia tinha certeza de que se o levasse até Rico, Kai não sairia intacto.

No fim, ela aprendeu que vingança cega. Lutar a base do ódio é o mesmo que ser derrotado antes mesmo da guerra.

— Como?

— Vou atrás dos Borelli. Vou acabar com cada um deles. — disse, sádico. Ele sorriu friamente e olhou para Kênia. — Você pode ir comigo e lutar ao meu lado. Ou pode ficar aqui esperando eu retornar.

Kênia forçou um sorriso, nervosa.

— Isso é suicídio, Kai!

O Grande Rico Borelli. - I Onde histórias criam vida. Descubra agora