De que vale o poder se não pode usufruir dele?
Ali, estagnada na superfície e com os olhos fixos naquelas duas íris acinzentadas, Kênia Martino só conseguia pensar nas palavras de Kai. Soavam até um decreto, uma premonição. A mulher sempre o respeitou e obedeceu suas ordens, mas não iria se sujeitar a conviver com Rico Borelli. Ela havia perdido demais durante sua vida, e se submeter a trabalhar para ele seria como perder sua dignidade, umas das poucas coisas que a vida lhe deixou.
— Está me escutando?
Ela o encarou com desprezo. Ódio puro fluía por suas veias.
— Infelizmente. — balbuciou, indiferente. Kênia suspirou. — Seja qual for a sua ''proposta", eu rejeito. Não quero ter nada haver com teus negócios, muito menos com você.
O semblante opaco que ele exibia fez com que desviasse o olhar. Tinha raiva de si mesma por não conseguir manter contato visual. Talvez no fundo tivesse receio de que se o olhasse bem no fundo dos olhos, pudesse voltar há anos atrás, e quem sabe, lembrar de quando tudo começou. De quando suas vidas ainda eram rosas vermelhas em meio ao deserto escaldante.
Rico travou o celular e o guardou no bolso. A fitou seriamente, a despindo com os olhos, sem um pingo de vergonha. A roupa que havia mandado comprar tinha lhe caído perfeitamente bem, como havia imaginado.
— Não se trata de mim e muito menos dos meus negócios. — informou. Forçou um sorriso, e então continuou: — Quero que se case comigo. Não por amor, é claro.
Kênia empalideceu. Prendeu a respiração antes de engolir em seco. Juntou as sobrancelhas, e sorriu em nervosismo.
— Como é? — indagou, imersa numa confusão. Ainda tentava abolir a sensação ruim de estar ao lado dele, de ter sua presença tão perto, e os olhos a perfurando. Como seria capaz de casar com ele?
Como ele era capaz de lhe propor algo absurdamente fora de questão?
— Isso mesmo que acabou de ouvir. Quero que se case comigo. — repetiu, como se fosse algo normal. — Sabe o que é, né? Quando duas pessoas que se amam tanto que passam a desejar unir suas vidas...
— Eu sei o que casamento quer dizer seu imbecil! — rosnou, exasperada. Ele riu.
— Quem bom, pelo menos não terei que explicar os termos de um casamento. — debochou.
Casamento. Não, Kênia não pensava em casamento. Nem com Kai ou com qualquer outra pessoa, muito menos com alguém como Rico.
— Isso é uma piada de mau gosto? Eu não vou me casar! — afirmou, enraivecida. — Eu jamais me casaria com você! Por acaso acha mesmo que algum dia cogitaria a ideia de conviver sob o mesmo teto que você? Nesse jogo ou eu te mato, ou você me mata. Casamento algum mudará as regras.
Rico sorriu diabolicamente. Os planos em sua cabeça envolviam Kênia Martino, e para dar certo precisava dela, sendo assim, por bem ou por mal ela teria que se casar com ele.
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O Grande Rico Borelli. - I
Mistero / ThrillerKênia Martino: uma mulher treinada para matar e desestruturar impérios. Nascida no mundo do crime e criada por criminosos, desde criança precisou aprender a lutar para sobreviver. Aos 17 anos perdeu os pais e a irmã em um ataque misterioso, sendo ob...