Kênia caminhou tranquilamente pelo corredor extenso da casa, cessou os passos apenas quando encontrou algo curioso a ser explorado. Pela brecha da porta entreaberta analisou o garoto com uma arma mirada à direção de uma lareira. Segurava o cano sem jeito, desajeitado, nem ao mesmo travou a pistola, poderia a qualquer momento dispara-la e nem saber como aconteceu.
Pensou seriamente em dar meia voltar e fingir que não o viu. Seu instinto de proteção ordenou severamente em sua mente para que continuasse seu caminho, mas o instinto materno, o que descobriu possuir quando reencontrou a criança que trouxe ao mundo, esse instinto foi maior e a fez adentrar no cômodo.
Dizem que instinto materno vence tudo.
Será mesmo?
— Está manuseando a arma de forma errada.
Ele a olhou, assustado. Escondeu a arma rapidamente atrás das costas.
— O que está fazendo aqui?
Deu de ombros, passou os olhos ao redor, bisbilhotando minuciosamente.
— Conhecendo o lugar. — respondeu. — E você? Por que está brincando de atirar?
Heron tufou o peito.
— Não estou brincando! — exclamou, indignado. — Estou treinando!
Kênia riu com desdém.
— Treinando? E quem te ensinou a portar essa arma? Olhe pra você! Não tem postura ou se quer jeito. — debochou. Heron a fuzilou com os olhos.
— Não devia estar aqui. Quero ficar sozinho.
Ao olhar para o garoto, Kênia teve um breve vislumbre do seu menino, do seu filho... Seria, afinal, tão ruim conhecê-lo? Era assustador só de imaginar ter que encará-lo. Ela nem sabia como faria caso fosse preciso.
— Que tal fazermos um trato sigiloso? — indagou. Heron a olhou de escanteio, desconfiado da aproximação.
— Não confio em você. — declarou, sério. Kênia deu de ombros, fazendo menção de pegar a arma.
— Que bom. Essa é a primeira aula, não confiar em ninguém. Vou te ensinar como se usa essa belezinha aqui...
— A troco de quê?
Respirou fundo. Havia tantos motivos para querer ajudá-lo. Talvez houvesse um em especial mas que Kênia ainda não estava pronta para aceitar.
— Digamos que acordei de bom humor... — mentiu, sorridente.
O que Heron mais queria além de vingar a morte da mãe era se tornar tão bom atirador quanto o pai, e diferente do mesmo, não importava se o caminho fosse ela. Foi justamente por isso que concordou em ser ajudado. Heron a deixou livre para travar e destravar a arma, Kênia sorriu sincera, contente por finalmente ter achado um passatempo.
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O Grande Rico Borelli. - I
Misterio / SuspensoKênia Martino: uma mulher treinada para matar e desestruturar impérios. Nascida no mundo do crime e criada por criminosos, desde criança precisou aprender a lutar para sobreviver. Aos 17 anos perdeu os pais e a irmã em um ataque misterioso, sendo ob...