Dezoito

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Paro enfrente a porta do quarto de Nicolai e confesso que estou tremendo mais que qualquer vez que tive que tomar injecção, tenho certeza que serei alvejada pelas mais diversas ofensas mas tenho que me manter forte ou pelo menos tentar, eu não posso cair diante a ele novamente, eu já anunciei que estou cansada disso e farei valer minha palavra. Me agarro a todo grão de coragem que encontro nos confins da minha alma e empurro a porta bruscamente invadindo o quarto.

- ESCUTA AQUI SEU IDIOTA, SE PENSA QUE VAI ME INTIMIDAR OU ME OFENDER, VOCÊ ESTÁ REDONDAMENTE ENGANADO. - Grito tudo no improviso. Nicolai está de pé no meio do quarto vestindo agora uma calça moletom preta, está sem camisa e de costas para mim me mostrando suas costas largas e definidas, seu cabelo está molhado e alguns pingos de água escorrem por suas costas iluminados pela luz do lustre do teto. Entro por completo no quarto e fecho a porta.

Nicolai se virá para mim e tenho certeza que o que eu disse o irritaram ainda mais, seus olhos estão faiscando ódio maciço, sua postura é rígida como um soldado do exército nunca o vi tão raivoso assim, ele parece um animal selvagem se contendo mas pronto para avançar sobre o alvo fácil que no caso sou eu a qualquer movimento que eu der, mas ele não fala nada, só me mede com o olhar, com certeza percebeu que estou abraçada a coragem segurando a mão do pânico que se forma pela falta de palavras.

- Você é ridícula. - Ele fala pela primeira vez desde que cheguei, e como sempre ofendendo. - Quem lhe deu permissão para sair? E ainda mais com a minha filha?

- Eu fui ao mercado comprar algumas coisas para Gia, Maria me acompanhou, fiqu... - Nicolai solta uma risada sombria e alta me fazendo tremer na base.

- ACHA MESMO QUE EU SOU UM TAPADO IGUAL O SEU AMANTE GAROTA ? - Nicolai grita, seus músculos do braço estão rígidos e sua mão se fecha em punho.

- Como é? - Pergunto sem entender e perplexa com o tom dele.

- NÃO SE FAÇA DE IDIOTA, POR QUE ISSO VOCÊ JÁ É! VOCÊ PLANEJOU ESSE ENCONTRO COM ELIA E USOU A MINHA FILHA COMO DESCULPA PARA ESSA SAFADEZA. - Ele cospe o veneno encima de mim que por minha vez pareço ter perdido a fala com a acusação. - SE ACHA MUITO ESPERTA NÃO É? AMÉLIA. MIL VEZES PATÉTICA.

- O senhor está me ofendendo...- Novamente interrompida por Nicolai que dá dois passos em minha direção ameaçador, dou um para trás tombando contra a porta fria.

- E PARA COMPLETAR A PALHAÇADA, VOCÊ AINDA É PEGA NO FLAGRA POR UM PAPARAZZI COM AQUELE MOLEQUE SEGURANDO A MINHA FILHA NOS BRAÇOS E VOCÊ AO LADO DELE RINDO DESPREOCUPADA, COMO SE FOSSEM A MERDA DE UMA FAMÍLIA DE COMERCIAL E AGORA VOCÊ ME VÊM SE FAZENDO DE DESENTENDIDA ACHANDO QUE EU VOU CAIR NAS SUAS MENTIRAS, VAI ME DIZER AGORA QUE O ENCONTROU POR ACASO? - Ele se aproxima mais e a essa hora as lágrimas começam a escorrer por meu rosto.

- POR FAVOR NÃO FALE ISSO, EU NUNCA USARIA UMA CRIANÇA PARA ENCONTROS, EU ENCONTREI ELIA POR ACASO FAZENDO COMPRAS NO MERCADO, EU JURO PRO SENHOR QUE NÃO FOI PLANEJADO. - Grito em meio a soluços fortes que explodem em meu peito.

Nicolai se aproxima mais de mim fazendo meu corpo agir no automático e se encolher contra a porta procurando alguma sensação de proteção e encontrando o frio da madeira contra a pele de minha nuca. Ele se aproxima mais e cria uma espécie de prisão com os braços os colocando de cada lado da minha cabeça.

- OLHE PARA MIM. - Ele manda firme. A minha visão se torna turva pelas lágrimas, meu corpo treme por uma mistura de frio e medo e minhas pernas viraram gelatina me forçando a encontrar apoio na porta. Levanto o olhar para Nicolai e as poucos ele se torna mais claro me dando a visão do rosto perfeito dele, sua barba parece ter sido aparada a pouco tempo, seu maxilar é rígido deixando sua expressão séria me intimidando como um animal. E então Nicolai retira uma das mãos que estavam apoiadas na porta e a coloca sobre meu rosto, a palma de sua mão é uma mistura de áspero com o macio, é como se minha pele esperasse por esse toque desde que nasci, meu rosto se encaixa perfeitamente me devolvendo aquele calor que volta a queimar-me de dentro pra fora como uma fogueira em meu peito que espalha calor. Ele passa o polegar pela minha bochecha direita limpando o fino caminho das lágrimas e depois repete o processo com a minha bochecha esquerda, ele para por um minuto ficando com a mão pousada sobre minha bochecha direita analisando tudo em meu rosto, meus olhos cheios de lágrimas, minhas sobrancelhas franzidas tentando entender o porque disso tudo, minhas bochechas que ganharam um tom rosado pela minha "febre" interna e por fim minha boca.

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