Quatorze

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Se me virem andando por este shopping gigantesco e interminável, por favor me tirem daqui. Eu não aguento mais andar, Nicolai me fez entrar em praticamente todas as lojas deste lugar, eu provei tantas roupas que mal me lembro, além de sapatos e bolsas enquanto o meu chefe conversava "animadamente" com algumas gerentes. E cá estou eu, esperando ele terminar de conversar com a gerente da Dior enquanto eu tomo chocolate quente muito bem acomodada em uma poltrona ao canto da enorme loja rodeada de mais de 20 sacolas de marcas de grife. Só uma blusa social exclusiva de uma marca italiana foi 500,00 dólares, Nicolai praticamente me obrigou a experimentá-la, pois eu me neguei, o preço estava um absurdo de fato, aliás tudo o que comprei custou um absurdo. Tenho certeza que se eu comprasse algumas peças em alguma loja econômica não gastaria nem um terço do que gastei.

- Vamos ? - Indica Nicolai para a saída da loja. Dou um último gole no meu incrível chocolate quente e deixo a caneca encima da mesinha ao lado da poltrona.

Pego cinco sacolas em cada mão, e Nicolai faz o mesmo. Com muito custo me levanto da poltrona. Começo a perseguir Nicolai pelo shopping praticamente ficando para trás de tanto que ele anda rápido. Ele para em frente a loja de ternos italianos e paro ao seu lado, a loja é pequena mas elegante, as vitrines mostram um homem esguio de óculos andando pra lá e pra cá com uma fita de medidas.

- Vostra Altezza, è un onore e un piacere riceverti nel mio negozio.- Grita o homem assim que entramos no lugar.

- Luige, mia cara. È sempre un piacere vederti.- Responde o meu chefe quase que numa alegria forçada em um italiano impecável.

Que maravilha! Agora eu vou ficar como uma tonta tentando entender o que os dois estão falando um para o outro. Caminho até uma bancada de madeira onde alguns pedaços de pano para ternos que devem custar uma fortuna estão estendidos formando um mix de estampas e cores e depósito as sacolas encima.

- Luige, gostaria de encomendar um terno, seda italiana. Cor azul cobalto. - O pedido de Nicolai sai como uma ordem disfarçada fazendo Luige correr para pegar uma prancheta encima de outra bancada que está ao lado de uma arara de ternos coloridos.

- Ótima escolha como sempre vossa alteza. - Comenta o bajulador. Nicolai revira ajeita seu óculos sobre os olhos e confirma com a cabeça. - Como vai vossa majestade o rei Ivan?

É a primeira vez que ouço o nome do pai de Nicolai em uma conversa. Ainda não tive o atrevimento ou curiosidade de perguntar sobre seus familiares ou amigos. Meu chefe é tão reservado quanto a esses assuntos que acho que será difícil arrancar algo deste homem.

- Meu pai vai muito bem Luige. Obrigado. - Nicolai se vira para mim lembrando da minha existência logo atrás de seu corpo. Não consigo ver seus olhos mas tenho certeza que ele esta me ordenando a pegar minhas sacolas e segui-lo loja a fora. - Aguardo o meu terno em três dias Luige, não me decepcione. - O pânico toma conta da face de meia idade de Luige que deve estar rezando a todos os santos para conseguir entregar um terno impecável em tão pouco tempo.

Pego minhas compras e saio primeiro da loja, poucos segundos depois Nicolai se junta a mim no caminho até o elevador. Ainda estou incomodada por gastar tanto dinheiro em meros pedaços de pano. Não só pelo fato de serem muito caros, mas também por ser Nicolai que está comprando. Eu gostaria de comprar algumas roupas mais baratas, e com o dinheiro do meu trabalho.

O elevador chega e entramos, quando as portas se fecham vejo a oportunidade perfeita para matar minha curiosidade sobre a família real da Rússia.

- Como é a sua família? - Pergunto enquanto o elevador começa a descer.

- A minha família? - Replica Nicolai confuso mas firme. - Grande.

- Grande? Só isso? - Insisto em saber mais detalhes. - Você pode chamar sua mãe de mãe ou tem que chamar ela de outra coisa ?

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