Quarenta e dois

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De repente, parece que o mundo parou de girar e eu parei de existir, parece que não estou nesta mesa, neste mundo.

Nicolai está com os olhos fincados na mulher que o encara na mesma intensidade, eles parecem duas feras que estão prestes a avançarem uma na outra, posso sentir a tensão, e o ministro, parece satisfeito com a situação. Então, a mulher vira seu olhar para mim, eles brilham e eu engulo a seco.

- E você, quem é ? - As palavras parecem correr para longe de mim, olho para Nicolai paralizado e tento achar meu norte.

- Amélia Mendonça, assistente pessoal de sua alteza. - Minha voz sai firme e os lábios vermelhos da mulher se abrem em um sorriso sarcástico e perfeitamente branco, ela parece se divertir as minhas custas.

- Assistente pessoal. - Ela repete minhas palavras.

- E quem é você ? - A mulher gargalha e olha para Nicolai.

- Você não contou para ela ? - Indaga Lady Natasha à meu chefe.

Olho para Nicolai esperando ele dizer algo, mas ele não o faz, mas olha para mim, com o olhar caído como que se transmite um pedido de perdão. O que ele não me contou ? Tantas coisas ele me esconde, sequer sei quem é ele, desde que comecei esse emprego, sinto que nem sei decifrar este homem.

- Sou a mulher dá vida do seu chefe. - Natasha pronuncia cada palavra com total impertinência e eu me pergunto se eu ouvi tudo com clareza.

Meu coração a esse ponto já está em pedaços e sinto a cor de meu gosto descer por minha garganta, meus pensamentos viraram nuvens cinzas e eu estou no meio disto tudo, novamente, perdida no escuro.

- Qual o propósito disto tudo ? Por quê ? O que fizeram não foi o bastante ? - Nicolai soa triste e eu sinto as lágrimas brotarem em meus olhos.

- Fiz aquilo para seu bem. - Natasha diz à Nicolai que gargalha baixinho e cheio de mágoa e desdém.

- Meu bem ? Me diga Natasha, depois de tudo, depois de se juntar a esse... rato, ainda tem o atrevimento de dizer que fez pelo meu bem ? - Nicolai cospe as palavras para a mulher.

- Você deve a mim o homem que se tornou hoje em dia, eu te coloquei no topo. - Natasha diz.

- Que deselegante, tratar assuntos pessoais na mesa. - Demétrius se pronuncia fingindo indignação.

- Eu devia ter cravado aquela faca no seu peito quando tive chance. - Nicolai se dirige à Demétrius com uma frieza que faz com que eu me encolha ainda mais na cadeira.

- Deveria, mas não fez, porque é um covarde de merda. - Os olhos de Nicolai flamejantes de raiva escorregam para a faca que repousa na mesa.

- Nicolai. - Chama Natasha e Nicolai olha para ela. - Vim aqui pois estava sentindo falta de nós.

Sinto o bile em minha garganta e eu tento me controlar para não sair correndo rua a fora.

- Francamente, sentindo minha falta ? Não seja hipócrita, você sequer me amou, você me destruiu... - A tristeza e ira de Nicolai parecem pairar pelo ambiente, poderia até ser palpáveis.

- Pare de sentimentalismo, até parece que amor vale de algo. Amor ? O que é esse sentimento fraco perto do que somos juntos ? - Natasha olha para mim. - É com essa que você esta dormindo ? Com essa garotinha estúpida, é com ela que você vem trepando ? De todas, essa é a mais patética.

Basta para mim, foi a gota d'água. Meu corpo não me obedece e se levanta no automático, minhas unhas cravadas na alça da minha bolsa e da maleta, sigo para a saída do estabelecimento e sou seguida por Nicolai. Os seguranças tomam postos quando atravesso a porta, um deles abre a porta do carro para mim e me arrasto para dentro, Nicolai entra logo em seguida se sentando ao meu lado, ele tenta colocar sua mão na minha no banco, mas puxo minha mão para o colo.

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