The Plebeian

Trinta e um

O forno apita, indicando que meu escondidinho está pronto, enquanto eu andava por esse apartamento enorme me deu uma vontade de casa, ai fui procurar a mochila que Gia arrumou para mim, e por sorte eu achei ela e por mais sorte ainda meu celular estava lá. Tinha tudo na geladeira de Nicolai, e foi até fácil fazer a receita que achei na internet, lavei toda a louça até. Coloco as luvas térmicas e desligo o forno, abro e o cheiro está maravilhoso demais, pego a pequena travessa branca e tiro ela do forno o fechando, a coloco na bancada da cozinha e retiro as luvas.

- Eu deveria abrir um restaurante. - Digo e dou risada ao me imaginar de chefe de cozinha. Abro um dos armários e pego um prato vermelho de porcelana, pego os talheres na gaveta e parto para atacar a comida me servindo de uma boa colherada.

Puxo um banco da bancada e me sento para comer.

- Amélia? - Paro de mastigar na hora em que ouço a voz de Nicolai vindo da sala. A manhã toda passei pensando nele, na forma que ele me tratou, esperava um pedido de desculpas hoje de manhã mas ele não veio, e além do mais, fui deixada sozinha nessa casa que eu nem conheço, achei que acompanharia Nicolai na reunião com o ministro mas eu estava enganada.

Nicolai entra na cozinha com uma sacola branca de uma boutique que eu reconheço o nome, é daquela boutique francesa do comercial de hoje de manhã. Ele vem até mim ficando por trás, ele repousa uma mão em minha cintura e me dá um beijo no topo da cabeça.

- Para você. - Nicolai coloca a sacola em minha frente e eu engulo a comida, levo minhas mãos a ela e a abro, uma caixa pequena de veludo azul esta dentro e eu a pego levantando a tampa. Um lindo par de brincos do que me parece ser diamantes, pequenas pedras brilhantes formando uma linha na vertical para no final uma pedra maior verde em forma de gota, é a jóia que estava na TV.

- São lindos. - Passo o dedo pelas peças encantada, mas por que disso?

- O que é isso? - Nicolai pergunta olhando para a travessa.

- Escondidinho. - Digo olhando para Nicolai.

- Es...escondi... o quê? - É engraçado ver Nicolai tentando falar em português, seu sotaque é tão lindo. - Posso comer também?

- Pode sim. - Nicolai me solta e vai pegar um prato e talheres para ele comer, quando pega a comida ele parece apreensivo, acho que ele nunca viu algo parecido.

- Tá com uma cara boa. - Ele se senta do outro lado da mesa de frente para mim, ele leva uma garfada farta de comida a boca.

- Gostou? - Nicolai nem me responde, leva mais e mais comida a boca, sem nem ao mesmo respirar. - Nicolai, vá com calma.

- Está maravilhoso. - Nicolai diz entre uma garfada e outra.

Sorrio e olho para os brincos, acho que meu dominador não entendeu o que eu estava fazendo hoje de manhã, quando olhei para o comercial, não queria dizer que estava querendo uma das jóias e sim que estava magoada demais por Nicolai ter me deixado sozinha aqui. Eu não posso aceitar isto.

- Meu pedido de desculpas.  - Olho para Nicolai que está no seu segundo prato de comida.

- Como ? - Ah meu Deus.

- Sempre funciona, você dá algo para elas e elas logo esquecem. - Olho pasma par Nicolai, ele não tem noção do que disse ? - Funciona com todas.

- Então pode dar esses brincos para essas outras mulheres, porque eu não sou uma delas. - Coloco a caixinha encima da bancada e me levanto. - Desculpe, eu perdi a fome.

Saio andando para fora da cozinha apressada e magoada, as lágrimas escorrem por meu rosto e corro direto para a escada subindo correndo, ao chegar ao segundo andar corro para o quarto, abro a porta que eu acho ser a do banheiro e estou certa, fecho a porta e retiro a blusa de Nicolai e minha calcinha, o banheiro em si é todo azul, branco e dourado, uma enorme bancada de mármore branco com duas pias de porcelanato azul cobalto, torneiras modernas e um armário de madeira embaixo com detalhes em dourado, na parede um espelho grande na vertical, um sanitário, um box encostado na parede azul com dois chuveiros, tudo moderno e luxuosos como Nicolai está acostumado, assim como as mulheres que tem preço, que se impressionam com um par de brincos daqueles, ou sapatos de grifes francesas, mas eu não sou uma delas, não sou mesmo, eu não me importo com riqueza, não estou com Nicolai pelo dinheiro ou pelo título de realeza que ele tem, estou por amor, por vontade de estar com ele para tudo, para deixar ele bem, um simples "eu sinto muito, desculpe" resolveria a situação.