8 Azar

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Acordei e fiz tudo o que costumava fazer toda manhã, até que me olhei no espelho; um lembrete que não havia nada de rotineiro em minha vida. Olhei o meu cabelo e sabia que não tinha como não lavar e secá-lo. Já chamaria atenção; não precisa parecer que tinha dormido na rua.

Minha cabeça ainda incomodava, mas o galo diminuiu bastante, já estava quase totalmente baixo. Consegui lavar e escovar meu cabelo e meus olhos só lacrimejaram um pouco quando os sequei. Talvez conseguisse sobreviver a esse dia.

Então vi a boca de Niall se escancarar quando entrei no carro. Ele não disse nada e não consegui ler seu semblante com seus óculos enormes cobrindo seu rosto. Ele me entregou uma garrafa de água e uma aspirina. Então, talvez hoje fosse ser um dos dias mais longos de minha vida.

– Obrigado – disse, enquanto jogava dois comprimidos em minha mão e os engolia com grandes goles de água. Tentei agir de forma natural, apesar de minha tensão.

Ele mal me olhou. Virei o retrovisor para examinar minha aparência no espelho, tentando entender o que o deixava tão retraído. Minha franja estava ajeitada sobre minha testa para cobrir o machucado e o curativo mal era notado sob os cabelos:

– Tá bom – perguntei. – Por que você não está nem falando e nem olhando para mim?

– Louis – ele respirou contrariado –, olhe para você!

– O quê? – defendi-me, olhando de volta para o espelho. – Acho que fiz um ótimo trabalho escondendo tudo.

– É isso o que quero dizer – sua voz estava trêmula. Parecia que ele ia chorar. – Você nunca deveria ter que cobrir nada. Sei que não vai me contar o que aconteceu, mas sei que você não caiu. Vai pelo menos me contar o porquê disso?

– E por que isso importa? – minha voz era um sussurro, por não ter previsto a força de sua reação. Não esperava que ele agisse como se nada tivesse acontecido, mas não queria que ele chorasse.

– Importa para mim – ele disse, chocado. O vi secar seus olhos sob os óculos.

– Niall, por favor, não chore – implorei. – Estou bem, eu juro.

– Como pode estar bem com isso? Você não está nem bravo.

– Tive o fim de semana para amadurecer – admiti. – Além do mais, não quero ficar bravo. Não quero deixá-la me atingir. Não estou bem com tudo isso – disse, apontando para minha cabeça –, mas que outra escolha eu tenho? Vou lidar com isso. Então, por favor, não chore. Você está fazendo com que me sinta horrível.

– Desculpe – ele murmurou.

Estacionamos o carro e ele tirou seus óculos, secando seus olhos enquanto se olhava no retrovisor.

– Estou bem – ele suspirou, tentando sorrir.

– Como estou? Seja sincero.

– Na verdade, você fez um ótimo trabalho escondendo tudo – ele admitiu. – Estou mal porque sei a verdade. – E de novo, ele nem sabia metade da verdade.

– Se alguém perguntar algo, porque sei que irão, diga que escorreguei no chão molhado e bati a cabeça na mesinha de centro. – Ele rolou os olhos ao ouvir minha mentira. – O quê, você tem uma mentira melhor? – questionei.

– Não – ele suspirou. – Fique com a aspirina. Sei que precisará dela.

– Pronto? – perguntei.

Não gostava de ver Niall magoado, especialmente por mim. A raiva e a tristeza eram um contraste à sua personalidade. Era desconfortável testemunhar. Ele expirou e assentiu.

uma razão para respirar - l.s versionOnde histórias criam vida. Descubra agora