Garota difícil

Cafajeste

Preguiça, você está presente em minha vida. Acordei, mas permaneci com os olhos fechados. Reconheci pela maciez que era a minha cama. Meu despertador estava tocando alto até de mais. Eu ia levantar-me para desligá-lo, mas ele parou de tocar na hora. Estranhei. Alguém deve ter desligado... Opa! Mas quem desligou? Abri rápido os meus olhos, e deparei-me com um Lucas quase beijando-me.

- Bom dia – disse ele.

Lucas, aqui no meu quarto? Na minha cama? Preciso esclarecer tudo isso.

- O que você ta fazendo aqui? – perguntei.

Ele riu.

- Dormi aqui, não se lembra?

- Você dormiu aqui? – me impressionei – Comigo? Na minha cama? Nós não fizemos aquilo... né? 

Ele pareceu tristonho.

- Não está lembrada de tudo que me falaste? Que me amava, que queria-me junto a ti por toda a vida?

Eu bati de leve no rosto dele.

- Pode parar, beleza? – eu sorri irônica.

- Mas é sério, tava muito bom – disse ele, fazendo cara de safado.

- Olha, sem zoação, por favor né.

Ele começou a rir.

- Sua cara foi engraçada. 

- Ta, pare por favor. – eu pausei, levantando na cama e encarando ele – Me conte tudo que aconteceu.

- Não se lembra de nada?

- Não. Só de você me beijando. Depois disso, nada mais me lembro.

- Depois foi simples... você bebeu bastante, reclamou de dor de cabeça e voltamos pra casa – ele se sentou na cama.

- Ok – suspirei – Se for possível, dá pra você esquecer que eu te beijei? Aquilo foi errado. Eu tinha bebido e tudo mais.

- Efeito do álcool – ele riu – Tudo bem.

- Preciso me trocar, licença – fui empurrando ele até a porta, mas me lembrei de um pequeno detalhe que eu precisava saber, urgente – A Mari e o Pedro dormiram juntos?

Ele sorriu maliciosamente.

- Acho que sim – disse e depois riu – Tenho que me trocar – ele me deu um selinho. 

Vai se ferrar! Ele me deu um selinho! Garoto abusado. Dei um tapa de leve no rosto dele e ele riu.

- Sem selinhos, sem beijos, sem nada. Esqueça a noite de ontem. – falei.

- Tudo bem – ele sorriu – Mas foi ótima.

Depois de dar uma piscadela, ele saiu do meu quarto.

Me arrumei para ir toda linda para escola. Ok, foi isso que eu tentei fazer pelo menos. Coloquei uma calça jeans coladinha, e uma regata branca, com um bolero preto por cima. Coloquei uma sapatilha e prontinha. Make, é claro. Fui para a cozinha e vi que todos estavam lá. Lucas sorriu para mim.

- Bom dia – cumprimentei-os sorrindo e pegando um iogurte na geladeira.

- Bom dia – eles responderam juntos.

Olhei para Mariana e pisquei, com um olhar de “Depois me conte tudo” e ela sorriu, ficando vermelha.

Comemos e depois escovamos os dentes. Fomos para a escola todos juntos, isso é meio óbvio, eu sei, e quando chegamos lá olhares e mais olhares vieram para nós.

Meu celular apitou e eu vi que era uma mensagem. Mariana.

M: Rolou com você e o Lucas?

J: Não, haha, e você e o Pedro, hein?

Eu olhei para ela, ela voltou-se ao celular e começou a digitar. Depois recebi a mensagem.

M: Sim.

Era apenas uma palavra, mas que tinha um significado gigantesco. Eles transaram. Era só isso.

Como Pedro e Lucas já haviam ido com a turminha deles, tomei a total liberdade de puxar Mariana e pedir à ela que me contasse tudo.

- Eu não to acreditando nisso – falei, mostrando a mensagem em meu celular.

- Acho que aqui não é um bom lugar para falar sobre isso...

- Mas pelo menos me conte algumas coisas.

- Você quer saber o que? – ela estava sorrindo, um sorriso sincero.

- Foi bom? – perguntei, segurando meu riso.

- Ah, eu preciso desabafar, Ju. Foi, foi muito bom. Eu amei. Ah, ele foi tão fofo!

- Apaixonada pelo próprio irmão?

- Talvez – ela disse rindo.

- Mari, você sabe que eu sou super a favor de vocês, né?

- Dês de quando? – ela riu.

- Ah, sei lá, acho super fofo isso. Já pensou, meus dois melhores amigos namorando?

- Está sonhando alto demais, Juliana. – ela riu – Mas, ah, foi ótimo, só que tem que ser um segredo.

- Pode contar comigo. – pausei – E vocês estão ficando?

- Escondido, sim. – ela riu – Ele propôs isso, de ficarmos, sabe...

- Sei, sim – eu sorri.

O sinal tocou e virei meu olhar, procurando pelo pátio Lucas e Pedro. Na verdade só o Lucas, não sei por que.

- Algo me diz que gamou no Denner – ela disse.

- Cala boca, Mariana – eu ri – Ele beija bem, só isso. E eu já falei que é pra ele esquecer a noite de ontem e tudo mais.

- Acha que meninos esquecem uma noite assim?

- Mari, nós não fizemos aquilo.

- Tudo bem, tudo bem. – ela riu.

Procurei novamente, e achei ele encostado em um muro, agarrado com a Sabrina. Sabrina! Ele estava com aquela bitch. Homens não prestam. Eles estavam se beijando, não estou acreditando nisso. O casalzinho voltou? Ah, Deus. Quando ele viu meu olhar preso ali, nos dois, ele imediatamente se soltou dela. Não entendi nada. Olhei para Mariana e ela também estava olhando pra lá.

- Cafajeste – disse ela – Não acredito que ele fez isso com você. 

- Mari, não faça nada. Foram só beijos, nada de mais – eu forcei um sorriso, mas o mesmo não saiu. Ela percebia que eu estava ruim com a situação – Eu estou bem, é sério. 

- Não, você não está.

- Meninas – Pedro chegou e deu um beijo em minha bochecha, e um beijão na Mariana. Quando eu digo beijão, quero dizer aqueles de cinema, com língua e tudo mais. Safados. Pedro reparando que eu estava triste, perguntou:

- O que aconteceu?

- Nada – ele direcionou o olhar para onde eu olhava, e pelo visto entendeu tudo.

- Babaca – disse ele, baixo – Ele te beija e depois volta com ela? Vou conversar com ele.

Ele estava indo em direção aos dois. Tentei impedi-lo, mas foi em vão. Ele já estava lá, conversando com Lucas, mesmo Sabrina estando perto.