Madri, 2014.Jade Thompson:
Lar! O que seria realmente um lar? Uma construção de tijolos, que servia para aquecer do frio intenso do inverno, da chuva fria, do calor forte nos dias quentes de verão, da violência das tempestades. Um lugar onde habitavam pessoas queridas, amadas, que se importavam uns com os outros, que se protegiam e se respeitavam, uma família? Uma família não queria dizer termos o mesmo sangue correndo em nossas veias, a mesma genética...
No Lar Madre Clélia, as crianças que ali viviam estavam acostumadas com o único lar que conheciam, a única família que tínhamos eram as outras crianças e as freiras. No entanto, mesmo não tendo um laço de sangue unindo-nos, sentíamos parte de uma única e grande família.
Para mim, Jade Thompson o orfanato era meu lar desde sempre, não conheci outra família, não sabia quem eram meus pais e nem o motivo pelo qual fui deixada ali. Quando criança vivia me perguntando qual teria sido o motivo. Até que no início da adolescência me convenci de que eles não me amavam, simples assim. Minha mãe não quisera a carga de criar uma filha sozinha, no início ao pensar nessa possibilidade as lágrimas tomavam conta de meu rosto. Meu amigo Marco Antônio me consolava nessas horas, bem como me consolava quando eu tinha os pesadelos que vez ou outra me acometiam. Ele era sobrinho da irmã Caridade, uma das freiras do orfanato, era dez anos mais velho que eu e tomara a responsabilidade sobre meus cuidados quando minha mãe me deixou no lar, eu confiava em meu amigo, tratávamos como irmãos. Também havia a Clarinha, nós duas éramos inseparáveis, ela não sabia quem era seu pai e veio para o orfanato aos três anos de idade, quando sua mãe faleceu, mas foi levada novamente, parece que havia uma tia e ela a levara.
Marco, entrou para a faculdade e nos finais de semana ficava numa edícula construída no final do terreno do orfanato, seus planos para si mesmo eram grandes. Após dez anos de esforços, conseguiu realizar vários deles! Agora era o responsável por uma das maiores agências de modelos de Roma, sim, morava na Itália, mas ainda visitava o orfanato onde viveu, uma vez por mês. Sua maior preocupação era comigo, acho que pelo fato de eu não ter família. Para onde eu iria agora que completei dezoito anos? Precisava fazer alguma coisa, cogitei a ideia de ir viver com ele na Itália, Marco sempre tentava me convencer a ser modelo fotográfico, com o rosto lindo que ele dizia que eu tinha e os olhos verdes, seria um tremendo sucesso! Palavras dele.
Minha preocupação era que a madre ainda não havia me chamado, completei dezoito anos há seis meses, eu me perguntava o motivo, pois os outros jovens que haviam deixado o lar ao completar a idade, foram embora já no dia seguinte ao aniversário. Como eu sobreviveria lá fora? Quase não saía do orfanato e quando saía era sempre acompanhada por uma das freiras, no entanto, não era ingênua, inocente sim, mas não ingênua. Eu completei meus estudos ali mesmo no lar, fiz vários cursos, falava três idiomas, gostava de estudar, de aprender, há muito me preparava para esse momento, mas agora que ele se aproximava, confesso que estava com medo, medo de enfrentar o desconhecido. Enfim, o momento que mais temia chegou, fui chamada pela madre, a irmã Caridade me olhava com tristeza, por isso não foi preciso ela me dizer o motivo que fui chamada. Meu coração batia descompassado, sentia uma tristeza sem precedentes, estava trêmula, meu estômago agitava-se, um gosto amargo vinha até minha boca, não queria ter que deixar o único lar que conhecia.
Enquanto andava pelos corredores, as lembranças invadiam minha mente, tudo o que conhecia estava alí, o que faria lá fora? Claro, tinha um fundo guardado na poupança, todos tinham, para que tivéssemos como nos manter quando tivéssemos que ir embora, quando a madre chamava para anunciar que deveriam partir, ela os entregava tudo o que iriam precisar. Respirei fundo ao parar em frente a porta da sala, minhas mãos tremiam pelo nervosismo, dei duas batidinhas e abri a porta.

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Totalmente Seu
RomanceEssa é uma história de minha autoria, qualquer cópia é totalmente proibida, pois a história está devidamente registrada. Plágio é crime e passível de punição.