Prólogo:

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Grace Thompson:

O vento frio era de enregelar os ossos, a cidade estava praticamente vazia, o anoitecer não tardava e caía uma garoa tão fria quanto. Eu andava a esmo, perdida na penumbra da noite, puxando meu casaco para me proteger do frio intenso e esforçando-me para cobrir o pequeno pacote em meus braços. Havia acabado de sair do hospital, trouxe à luz uma linda garotinha, o fruto de um amor perdido. Meus cabelos estavam desarrumados e uma expressão desfocada e triste em meus olhos, quem me visse nessa hora diria que era mais uma andarilha qualquer, uma louca, ou uma pobre mendiga! A garoa de outrora, tornara-se chuva, os trovões faziam-me estremecer, molhada e com muito frio, acabaria doente e se não protegesse a pequenina em meu colo ela também acabaria adoecendo. Não tinha jeito, não conseguiria criar minha filha, por mais que a amasse, que a quisesse, não tinha condições de ficar com a criança. Um amargor, uma tristeza tomava meu semblante. E para piorar minha situação, não conseguia amamentar minha filha, meus seios estavam secos, já ao sair do hospital me perguntava o que faria. Não conhecia praticamente ninguém em Madri, precisaria trabalhar e não fazia ideia do futuro para minha pequena. Creches particulares eram caras! As públicas? Geralmente não aceitavam bebês recém-natos! Estava perdida, desesperada, sem rumo, sem esperança. O único dinheiro que me restava apenas pagaria uma passagem de volta para a casa dos meus pais.

Me chamo Grace Thompson e fui trabalhar na Espanha, o fato de ter ido morar com uma tia avó pesou muito nessa decisão, porém minha tia morreu inesperadamente seis meses depois que eu cheguei. Minha família era proveniente do condado da Cornualha no sudoeste da Inglaterra e acabou aceitando o fato de eu ficar morando sozinha na casa da falecida tia. Meus pais já estavam bem idosos e eram extremamente religiosos, nunca aceitariam que eu ou minha irmã tivéssemos filhos fora do casamento, que se dessem ao desfrute, como diria minha mãe. Eu não sabia o que fazer, faltava-me coragem para voltar, meus pais com certeza me expulsariam, pensava comigo.

Eu jamais esperava que me aconteceria isso, que ele, meu primeiro grande amor, desapareceria sem deixar rastros. Conhecemo-nos na fábrica onde trabalhávamos, ele era meu chefe, foi uma paixão avassaladora, quase que instantânea, ao menos para mim, era o que sentia. Começamos a namorar e depois de alguns meses desse intenso romance, nós nos entregamos à paixão. No entanto, aquele momento de volúpia teve este triste resultado, acabei grávida, sozinha, tive minha filha e estava aqui, perdida, sem saber o que fazer, desesperada, debaixo dessa chuva fria.

Parei em frente a um muro enorme, lágrimas doloridas desciam por meu rosto. Apertei minha filha em meus braços mais uma vez e pensei que a pequena ainda não tinha um nome... Jade... esse seria o nome que darei à minha filha, ela possuía enormes e lindos olhos verdes, o cabelo negro, a pele morena e perfeita e sim, eu a amava, mas precisava pensar no que seria melhor para ela e o melhor nesse momento, infelizmente não era ficar comigo, por mais que isso me doesse o coração. Toquei a campainha e aguardei, até que o enorme portão se abriu. Adentrei dentro dos muros, passando por lindos jardins e alcancei a porta, dei duas batidas com a argola de metal e alguns segundos depois, uma noviça a atendeu.

-Boa noite, em que posso lhe servir?

-Boa noite! Preciso muito falar com a madre.

-Entre, senhora. Eu a levarei até ela. Vou pegar uma toalha para se secar.

-Obrigada!

Meus olhos percorreram o local e me pareceu um lugar acolhedor, era agradável. Os corredores eram enormes, tudo bem limpo, um aroma gostoso. Olhando ao redor, vi algumas crianças correndo, brincando, elas sorriam e pareciam felizes naquele lugar. Então senti que estava fazendo a escolha certa, minha filha seria bem cuidada e estaria segura.

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