Capítulo Cinquenta e Seis:

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Luna e Joseph chegaram em casa e estranharam o silencio, geralmente nesse horário estavam todos por alí fazendo uma coisa ou outra. Francesca lhes disse que estavam todos no quarto do senhor Theodoro, Luna estranhou mais ainda, os dois subiram e ao entrarem no quarto de seu irmão, deram com aquela cena deprimente, se assustaram.
Theo estava devastado, chorando sem parar, seus pais tentando confortá-lo.
-Pam, o que aconteceu? Porque meu irmão está assim? Jade...? — Ela pensou o pior, mas não tinha coragem de perguntar na frente do irmão.
-Não Luna, Jade ainda não acordou, acontece que Theo está cansado, apenas isso. Ele está com medo de que ela não acorde mais, todos esses dias trancado dentro do quarto do hospital, os bebês chorando de fome, porque não querem mamar na chuquinha, a Jade derramando leite e não poder amamentar os filhos como se deve, isso tudo está mexendo com ele.
-Theo, Theo, meu irmão, não fica assim, por favor! — Ela pediu abraçando-o.
Era de dar pena, nunca vira seu irmão dessa maneira, Joseph também estava com pena do amigo, ele sempre imaginou que se um dia Theo se apaixonasse, seria para valer, mas ver o quanto ele estava sofrendo por conta do que acontecera a esposa, era muito triste e se ela demorasse mais tempo, ou se não acordasse nunca?
-Eu, eu preciso voltar para o hospital. — Ele disse ainda chorando.
-Fique em casa essa noite meu neto. — Pediu Esperanza.
-Não posso abuela, já me demorei demais, não quero ficar tanto tempo longe dela e nem dos meus filhos. Eles precisam de mim, eu já estou melhor, acho que precisava desabafar, só isso. As vezes penso que está tudo ruindo na minha cabeça, toda a felicidade que eu sentia se evaporou de repente, se desfez como uma bolha de ar, só vou voltar a sorrir como antes quando Jade finalmente acordar.
-Mas, tem algum motivo para que ela não tenha acordado ainda? — Indagou Joseph.
-Aparentemente não, pode ser apenas pela quantidade de sedativos que ainda pode estar em seu organismo, o problema é que se demorar muito, ela poderá entrar em um coma profundo. Algumas pessoas demoram de duas a quatro semanas, mas mesmo na ausência de drogas sedativas, podem demorar mais tempo, mas eu ouvi o Neurologista dizer que muitas pessoas evoluem para a melhora do nível de consciência ou... ou para a morte encefálica. Por isso ela não pode demorar mais tempo para acordar e esse é um dos meus medos, eu não vou conseguir viver sem ela.
-Vai dar tudo certo Theo, ela vai acordar. — Garantiu Joseph.
-É com isso que eu me agarro, é só com isso que eu me agarro.
-Eu entendo que queira ficar no hospital, eu o levarei, não irá dirigindo. — Decidiu Lorenzo.
-Filho, tome um banho antes, um de seus irmãos ficará lhe fazendo companhia.
-Não é necessário, mama, eu não vou fazer nenhuma besteira, ao menos, por enquanto.
-Theodoro! — Exclamou Olívia ao ouvir o filho dizer as últimas palavras, quase que sussurradas, mas ela ouviu.
-Tá, perdão mama, perdão por eu ter surtado, por ter me descontrolado, não irá mais acontecer.
-Filho, não é esse o problema, todos as vezes nos descontrolamos em um momento como esse em que está vivendo, entendemos que toda essa situação é difícil para você, só queremos que saiba que pode contar com sua família, que pode desabafar com a gente não tem que guardar tudo só para você, ficou tentando ser forte muito tempo, foi nisso que deu, acabou se descontrolando, você tem o direito de chorar, de reclamar, todos temos, é isso que queremos que entenda.
-Tudo bem papa, está certo, eu agradeço. Mas, ainda não preciso de babá, depois que tomar um banho eu concordo que me leve, não estou mesmo com cabeça para dirigir. Agora, eu estou melhor, prometo. — Ele prometeu mordendo o lábio inferior.
Todos acabaram saindo de seu quarto deixando-o sozinho. Theo sentou-se na cama tirando os sapatos, sem pressa ele tirou a camisa, abriu a calça e caminhou até a penteadeira onde estavam todas as coisas, os cremes e perfumes de Jade, abriu o seu perfume aspirando o cheiro que ele adorava sentir na pele dela, ao lado, estava um porta-retrato com uma foto dos dois no dia do casamento, ele a abraçava sorridente, ela também sorria com a cabeça encostada em seu peito.
-Ah, meu amor, eu preciso tanto que você desperte, que volte para mim, para nós, não imagina a falta que você me faz. — Recolocou o porta-retrato no lugar, terminou de se despir e foi tomar seu banho, em casa a falta dela doía ainda mais, porque a presença estava impregnada em cada canto, em cada pedaço, ele ligou o chuveiro e entrou em baixo, deixando que a água quente relaxasse seu corpo, porque sua mente não conseguiria relaxar.
Se ensaboou automaticamente, se enxaguou e desligou o chuveiro, se secou e saiu para o closet, o chão ainda estava coberto dos cacos do espelho que ele quebrara, pegando uma calça jeans escura e uma camisa também escura, uma jaqueta de couro, afinal, o tempo começava a esfriar, vestiu-se e saiu para o quarto, dando de cara com Joseph.
-Está melhor meu amigo? — Joseph perguntou.
-Só vou ficar melhor quando minha mulher acordar Joseph.
-Eu entendo Theo, sei que isso está acabando com você e estou preocupado.
-Eu já disse que não vou cometer nenhuma besteira, afinal, minha Jade está viva e é isso que me importa. Além do mais, eu tenho dois filhos lindos que precisam de mim nesse momento mais do que nunca.
-É isso mesmo Theo, eles precisam de você, Jade tem que ver que você cuidou bem deles enquanto ela estava dormindo.
-Foi bom eu ter desabafado, estou me sentindo mais leve sabe, parecia que havia um peso enorme em meus ombros, um peso que estava me empurrando para baixo, poder extravasar me fez bem. Agora acho que suporto mais um tempo.
-Espero que não precise aguentar por muito mais tempo.
-É o que eu também espero, meu amigo. Mas agora deixe eu ir que eu não quero ficar muito tempo longe dos meus amores.
-Quem te viu e quem te vê, eu sempre soube que se um dia você se entregasse ao amor seria assim, intenso, duradouro, mas na boa, nunca pensei que você teria tanta paciência com criança como você tem com os bebês.
-Eles são o melhor presente que Jade poderia ter me dado, são uma parte dela, uma parte minha, minha princesinha é tão parecida com a mãe, como não amá-los? Eles que estão me dando força para suportar tudo isso, se algo acontecer a ela, acho que eu só sobreviverei por eles, para eles, nunca mais vou amar outra mulher em toda minha vida, nunca outra poderá substituir minha Jade.
-Eu entendo meu amigo, eu entendo.
-Joseph, agora, eu preciso ir.
-Claro, tudo bem, vai lá.
-Não sei quando eu venho para casa de novo, acho que agora só volto se for com minha mulher e com meus filhos. — Theo e Joseph desceram, Lorenzo já esperava o filho, Pamela decidiu que acompanharia o primo nessa noite.
-Vamos papa?
-Sim filho, vamos. — Apesar de preocupados, ninguém queria perguntar como ele estava.
-Theo, eu vou ficar contigo hoje à noite. — Anunciou Pamela.
-Tudo bem prima, vamos então. — Eles se despediram de todos e se dirigiam para a garagem.

Ramon perguntou a Joseph:
-Então Joseph, como você acha que ele está?
-Acho que o desabafo fez bem a ele, não se preocupem, ele está renovado.
-Bom, dos males o menor, tenho que pedir para Elisa limpar o closet, com cuidado para não se cortar nos cacos do espelho que ele quebrou, ainda tenho que mandar colocar outro espelho. — Constatou Olívia.

~*~

Eles chegaram ao hospital e Theo se dirigiu direto para o quarto da esposa, abriu a porta e levou um tremendo susto, seu coração quase parou, começou a tremer, um gelo terrível tomou conta de cada terminação nervosa de seu corpo.
Anita e Lola estavam cada uma com um dos bebês, ambas tinham lágrimas nos olhos.
-Tia, Lola, onde está Jade? O que aconteceu?
-Theo! — Exclamou Anita.
-Diga tia, onde está minha mulher? — Ele inquiriu novamente.
As duas apenas se entreolharam.
-Calma primo, está tudo bem com Jade, eles a levaram para fazer um eletroencefalograma mais específico.
-Mas, para quê? O que aconteceu?
-Ela teve novas reações. — Revelou Anita.
-Como assim?
-Ela abriu os olhos, te chamou e voltou a fecha-los.
-Eu não acredito e eu não estava aqui, ao seu lado?
-Calma filho.
-Calma nada, eu prometi a ela que não sairia do seu lado por nada. Eu sabia que não deveria ter ido pra casa.
-Theo, ela vai ficar bem, ela está reagindo, o doutor Rodrigues disse que é só efeito da grande quantidade de sedativos mesmo, por isso ele a levou para fazer novos exames, já coletaram sangue também. — Complementou Lola.
Ele suspirou aliviado, tudo o que que ele mais pedira a Deus era que ela acordasse logo, agora sentia que era mesmo só questão de tempo.
-Ai Pai! Nem acredito nisso, esse sofrimento vai enfim acabar. — A porta do quarto se abriu novamente e entraram com a maca trazendo Jade. Colocaram-na na cama e a arrumaram ajeitando-a.
-Então doutor? — Theo quis saber.
-Ela vai acordar Theodoro, agora é coisa certa, é só ter mais um pouco de paciência.
-Desde que ela volte para mim, paciência é tudo o que eu tenho tido nos últimos dias. — Os olhos dele estavam cheios de lágrimas, como queria tê-la em seus braços novamente. Depois de mais meia hora, Lorenzo, Anita e Lola se despediram indo embora, fazendo com que Theo prometesse que os avisaria a qualquer hora da noite, ou da madrugada se Jade acordasse.
-Oi meu anjo, me perdoe por não estar aqui quando você me chamou. Eu prometo que não sairei mais do seu lado. Volta para mim vai meu amor! Por favor! — Os bebês começaram a chorar de fome, Theo e Pamela pegaram cada um deles tentando acalmá-los, Theo apertou a campainha ao lado do leito de Jade chamando uma das enfermeiras.
-Senhor, deseja alguma coisa?
-O leite deles, estão com fome.
-Mas, eles mamaram agora a pouco, antes que o senhor chegasse.
-Mas eles não mamam o suficiente, eles estão com fome, eu sei disso.
-Tudo bem senhor, eu já volto.
-Obrigado!
-Calma meu filho, só um pouquinho meu amor, o papai já, já vai dar o seu mamazinho.
-Theo! Theo! — Ele estremeceu, ao ouvir aquela voz tão amada chamando-o, não conseguia acreditar, era tudo o que ele mais queria ouvir, virou-se devagar e viu-a se debatendo.
-Theo!
-Pam, pegue-o por favor!
-Claro, me dá ele. — Pamela estava chorando emocionada, os bebês, parecendo adivinhar que algo bom estava acontecendo, pararam de chorar, olhando tudo ao redor.
Theo se aproximou dela, pegando em sua mão.
-Estou aqui minha pequena, estou aqui, acorda, abre os olhos para mim, por favor!
-Theo, eu... eu...
-Abre os olhos meu amor, vamos lá, abre os olhos. — Ela tentava levantar sozinha, abrir os olhos como ele pedia mas seu corpo parecia estar pesado, não conseguia se mexer direito.
-Eu... eu não consigo!
-Consegue amor, vamos lá, faz uma forcinha.
-Meus bebês, eu quero... quero... meus bebês.
-Eles estão bem meu amor, estão aqui com a gente, querendo você tanto quanto eu. — Ela apertava os olhos fortemente, tentando abri-los, até que fazendo muita força, conseguiu finalmente. Theo, ao ver ela com os olhos abertos, deitou a cabeça em seu peito e chorou comovido, mas dessa vez era um choro de alegria, ele estava feliz novamente.
-Jade, meu amor, como eu sofri esses dias todos sem você, meu amor, eu lhe imploro, nunca mais me dê outro susto desses, por favor!
-Desculpa!
-Tudo bem, a culpa não foi sua, eu te amo! Eu te amo tanto minha pequena, não vivo sem você. Você e nossos filhos são tudo para mim. — Ela conseguiu erguer uma das mãos tocando em seus cabelos.
-Eu ouvia tudo o que você me falava, mas eu não conseguia acordar, eu tentava, mas não conseguia, ouvia nossos bebês chorando, mas não sabia se era sonho, ou realidade.
-Agora tudo o que importa é que você voltou para mim, voltou para nós. — Pamela chorava comovida, era tão lindo ver o amor dos dois, a dedicação do primo para com a esposa e os filhos.
-Eu quero vê-los.
-Claro que sim meu amor, eles também sentiram sua falta.
Theo levantou a cabeça, contemplando os olhos da mulher que tanto amava.
-Mas antes, antes de tudo eu necessito de uma coisa. — Ele disse.
Pegando em seu rosto com as duas mãos, abaixou a cabeça e tomou-lhe os lábios em um beijo carinhoso, saudoso, cheio de amor, que mais uma vez trouxe-lhes lágrimas aos olhos.

~*~

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