Parada Estratégica

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A viagem seguiu sem muitos distúrbios. Cecília e Otávio estavam entretidos em conversar sobre livros, já deixando o mistério de lado e passando por romances históricos, aventuras gregas, e agora focavam em livros de poesias. Enquanto isso, Luccino mantinha seu olhar nas paisagens da estrada, e Mariana tentava puxar assunto, ou participava da discussão sobre livros.

Foi mais ou menos uma hora depois que tinham saído que Cecília suspirou alto e se arrumou no banco.

- Meninos, eu estou começando a sentir minhas pernas adormecerem – ela falou, olhando entre eles. – Podemos fazer uma parada para descansarmos? Ou será que vai ter algum problema?

- Problema algum! Eu estou exausta de ficar parada – Mariana se intrometeu, se inclinando para perto das cadeiras da frente. – Poderiam parar um pouco?

- Claro – Otávio concordou, olhando ao redor e saindo da estrada, parando no gramado ao lado e desligando o motor. – Acho bom nós pararmos mesmo. Dirigir é um tanto cansativo. Meus braços já estão ficando com câimbra.

- Eu posso continuar a viagem daqui – Luccino comentou, baixo e para si mesmo, ainda não olhando para dentro do carro. Como não houve resposta, e o clima ao redor começou a pesar, Mariana apressou Cecília a sair.

- Deixe os homens com seus problemas! Venha Cecília – Mariana saiu e puxou sua irmã consigo, se dirigindo para uma mata ali perto com qualquer desculpa, só para deixar Luccino e Otávio sozinhos.

Luccino observou enquanto elas andavam, e suspirou, fechando os olhos por um segundo antes de virar a cabeça.

- Eu posso...

Mas Otávio já não estava mais no banco ao seu lado.

A porta do motorista estava aberta, e Luccino estava sozinho dentro do veículo.

Ele grunhiu baixo e esfregou sua cara, nervoso, antes de sair e fechar a porta com mais força que necessário. Olhou ao redor, e bufou ao de fato ver Otávio se alongando com a ajuda de uma árvore ali perto.

Ele parecia tão calmo. Tão sereno. Falso! Luccino sentiu o sangue esquentar, mas se manteve parado e suspirou alto, tentando se acalmar. Sair gritando não ia adiantar nada.

Maldito sangue italiano. Sempre fervendo!

Depois de se acalmar, se aproximou do major, respirando fundo e parando à sua frente, pronto para pedir desculpas.

Otávio só lhe deu um olhar de relance e voltou a olhar para o chão.

- Otávio.

Ele levantou os olhos.

- Sim?

- Vamos parar com essa briga boba.

- Foi você que começou.

- Eu sei – Luccino respondeu, sentindo o sangue esquentar de novo com aquela frase infantil. Mas conseguiu se manter calmo. – Por isso que eu vou terminar. Chega, tá bem?

- Você não me parece muito arrependido – Otávio soltou a árvore e cruzou os braços, se inclinando contra a mesma. Luccino suspirou.

- É porque eu não estou arrependido. Eu não falei nenhuma mentira – ele falou, cruzando os braços também. – Só que eu não quero ficar sem falar com você. E eu não quero você quieto desse jeito...

- Luccino, e literalmente não parei de falar um minuto durante essa hora dentro do carro – Otávio retrucou, arqueando a sobrancelha. – Quem não abriu a boca foi você. O que aliás foi muito indelicado com Mariana, que tentou puxar assunto o tempo inteiro, e com Cecília, que te fez várias perguntas durante o trajeto.

- Eu respondi as duas todas as vezes que elas falaram comigo – Luccino bufou, olhando para baixo. Otávio rio seco.

- Sim e não não são respostas agradáveis, Luccino.

- Você queria que eu respondesse o que?! – Luccino respondeu, sua voz se alterando, ficando mais alta, e ele suspirou, tentando se acalmar novamente. Maldito sangue italiano! – Eu nunca li aqueles livros, minha família não tem o habito da leitura! Quem me ensinou a ler foi a Fani depois de viver com os Tibúrcios, mas depois que eu comecei a trabalhar eu não tive tempo de ler assim, por ler! Eu nem sei quem é Agatha não sei quem, como eu vou participar dessas conversas?!

- Luccino, calma...

- Você tinha que ter trazido a Fani, aposto que ela amaria uma viagem dessas! Até o Ernesto ia gostar, ele iria saber o que responder, e se não soubesse, não teria qualquer medo de parecer um idiota fazendo as perguntas mais burras possíveis! Mas eu não sou assim! Eu tenho medo de fazer perguntas idiotas, de me acharem burro, de rirem de mim! Eu não gosto do que eu não conheço, eu-

- Luccino chega! – Otávio falou, alto, segurando seus braços, e Luccino se calou, tremendo no lugar. Ele mal tinha reparado que tinha lágrimas nos olhos, seu coração apertado, doendo, e nem ele sabia direito por que. Ele só conseguia morder os lábios para impedir qualquer barulho de sair, e manteve seus olhos no chão. – Luccino, olha pra mim.

Ele levantou sua cabeça lentamente e se sentiu ainda mais culpado ao ver a expressão preocupada na face de Otávio.

- Isso não tem nada a ver com a conversa sobre os livros, não é? – Otávio perguntou, sua voz suave e calma, e Luccino balançou a cabeça em negativa, sentindo um soluço tentar sair de sua boca, mas ele o suprimiu. O major suspirou e o puxou para mais perto, andando até atrás da árvore para que as meninas não vissem. – Me fala. O que foi?

- Desculpa – ele soltou, rápido, com medo de começar a chorar copiosamente se ele deixasse sua boca aberta por muito tempo. Otávio deu-lhe um sorriso triste e negou com a cabeça, gentilmente limpando suas lágrimas e segurando seu rosto.

- Está tudo bem, se acalme – ele murmurou, e Luccino se inclinou em sua direção, pousando a testa contra a de Otávio e respirando fundo, sentindo o ar tremer ao entrar e sair de sua boca. – Podemos conversar sobre isso quando chegarmos. Está bem?

Luccino assentiu, um sorriso trêmulo se formando em seus lábios enquanto suas mãos seguravam firme o paletó de Otávio. Só a presença dele já o acalmava, mesmo que ele ainda quisesse se desculpar e sentisse aquele incômodo no peito que não saía.

- Você está dirigindo muito bem – ele murmurou, querendo mudar de assunto para acalmar a si mesmo e Otávio, que deu uma risada baixa e segurou a cintura do mecânico.

- Muito obrigado. Tive o melhor professor – ele respondeu, e seus olhos se encontraram, fazendo Luccino sorrir bem mais calmo. Os olhos de Otávio pareciam sempre dizer aquilo que Luccino precisava ouvir. Agora, eles mostravam calma, segurança, e amor. Era tudo que Luccino queria. – Vamos?

- Vamos – Luccino concordou, respirando fundo antes de roubar um beijo rápido de Otávio, sorrindo ao vê-lo corar bem de leve, enquanto um sorriso apaixonado aparecia em sua face.

Eles só esperaram que a face de Luccino ficasse menos vermelha do choro, e voltaram para o carro, prontos para mais uma hora de viagem.

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Luccino é a drama queen q a gente respeita

Felizes Para SempreOnde histórias criam vida. Descubra agora